Donald Trump afirmou nesta quinta-feira que só aceitará um resultado "claro" nas eleições de 8 de novembro, um dia depois de causar consternação no debate contra Hillary Clinton pela ameaça de não reconhecer o resultado eleitoral, insinuando uma possível fraude.
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"Aceitarei um resultado claro das eleições, mas também me reservo o direito de responder e apresentar ações legais caso dê um resultado questionável", disse Trump durante evento na cidade de Delaware, Ohio, estado-chave nos comícios.
No mesmo discurso, Trump antecipou que aceitaria o resultado das eleições presidenciais, mas causou confusão ao acrescentar que isto só ocorreria se ele saísse vencedor.
"Quero prometer a todos os meus eleitores (...) que aceitarei totalmente os resultados desta grandiosa e histórica eleição presidencial", disse Trump, antes de acrescentar, "se for o vencedor".
No debate da noite de quarta-feira com a adversária, a democrata Hillary Clinton, o republicano Trump causou consternação ao evitar se comprometer a aceitar qualquer resultado da eleição.
Consultado, disse que verá o tema "no momento oportuno", abrindo a porta ao questionamento de todo o processo.
Em visita a Roma, a procuradora-geral (ministra da Justiça), Loretta Lynch, rechaçou nesta quinta-feira as insunações do candidato de que as eleições poderiam ser manipuladas a favor de Hillary, afirmando que não há razões para crer que haja um risco real de cédulas falsas, eleitores impedidos de votar ou contas falsificadas.
Também nesta quinta-feira, mais uma mulher acusou Trump de agressão sexual. A professora de ioga Karena Virginia, de 45 anos, afirmou em uma coletiva em Nova York que o empresário teria tocado seus seios e feito comentários inadequados durante um torneio de tênis em 1998, quando ela tinha 27 anos.
Com esta são dez as mulheres que acusaram o candidato republicano de conduta sexual agressiva nos últimos dias.
Troca de farpas
A tensão voltou a dominar o terceiro e último debate antes das eleições, realizado na noite de quarta, em Las Vegas. Os dois adversários trocaram acusações por uma hora e meia em um duelo tenso, se posicionando nos opostos do espectro político em todos os temas, da Suprema Corte às armas, passando pelo aborto, Rússia, economia, impostos, política externa e imigração.
Trump começou o terceiro debate consertando os tropeços de seus dois primeiros encontros. A confirmação dada por ele à base conservadora sobre sua posição referente ao aborto, às armas e à imigração não o ajudarão a atrair novos eleitores, mas sua disciplina dava sinais de uma preparação melhor.
No entanto, os esforços foram pelo ralo ao se mostrar reticente em assumir o compromisso de reconhecer o resultado da eleição presidencial, contradizendo inclusive seu candidato a vice, Mike Pence.
"Verei isso no momento oportuno", disse Trump, com o desejo de manter o "suspense" e sob o risco de levantar dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral americano. Em julho de 2015 ele se negou a comprometer seu apoio ao eventual ganhador das primárias republicanas.
Embora autoridades e especialistas duvidem da possibilidade de uma fraude maciça de votos no descentralizado sistema eleitoral americano, Trump observa um "sistema manipulado pelos doadores" de Hillary, classificando-a como uma política corrupta e desonesta.
"É perturbador", respondeu imediatamente Clinton. "Está denegrindo e rebaixando nossa democracia", afirmou a ex-secretária de Estado de 68 anos.
Mais metódico no início do duelo, Trump voltou rapidamente às bravatas, expressando irritação ao ser criticado e rejeitando as acusações de uma série de mulheres que afirmam que o milionário de 70 anos as beijou ou tocou à força há uma ou mais décadas.
Relação amarga com o partido
A atitude desafiadora dificilmente o ajudará a diminuir a diferença nas pesquisas. Antes do debate, Trump estava 6,5 pontos atrás de Hillary, segundo a média das pesquisas nacionais estabelecida pelo site Real Clear Politics, que também o coloca em segundo lugar na maioria dos estados chaves da eleição.
O casal Obama, poderosa arma da campanha de Hillary, estará sob os holofotes nesta quinta-feira e tentará aproveitar o passo em falso do republicano.
Barack Obama, que na terça-feira pediu que Trump "pare de choramingar", fará campanha em Miami, enquanto sua esposa Michell discursará no estado conservador do Arizona, objetivo dos democratas mais otimistas.
A declaração de Trump contra a confiabilidade do processo eleitoral, pilar de dois séculos da democracia americana, deve dificultar ainda mais sua relação com a liderança republicana.
O presidente do partido, Reince Priebus, contradisse seu candidato no canal MSNBC. Com a Casa Branca já praticamente perdida, uma angústia se infiltra entre o Estado Maior republicano: perder o controle do Congresso, em jogo nas legislativas que serão realizadas no mesmo dia da eleição presidencial.
"Hillary Clinton muito provavelmente vencerá a eleição, mas a pergunta é qual será o efeito nos candidatos republicanos ao Senado, à Câmara de Representantes e a outros cargos", disse à AFP Robert Erikson, cientista político da Universidade de Columbia.
"Os republicanos estão muito temerosos pelo que Trump fará nas próximas três semanas", ressaltou o especialista.
Antes de partir de Las Vegas, Hillary e Bill Clinton foram saudados por uma multidão de 5.000 pessoas reunidas ao ar livre.
A bordo de seu avião que a levou a Nova York, Hillary criticou os esforços de seu adversário para "culpar outro por sua campanha".
Trump se dirigiu a Ohio, estado chave nas presidenciais, onde seguirá em campanha nesta quinta-feira.
Após o último debate amargo, os dois candidatos se encontrarão novamente nesta quinta-feira no jantar beneficente Alfred Smith em Nova York, uma tradição na qual os aspirantes à Casa Branca deverão fazer brincadeiras uns com os outros em um ambiente descontraído.