Por duas décadas encarregado da Segurança e da Defesa durante o governo de seu irmão, Fidel, Raúl Castro deu uma reviravolta inesperada ao substituí-lo em 2006, quando procurou reformar o sistema comunista para salvá-lo do colapso e anos depois conseguiu a histórica aproximação com os EUA.
Sem o carisma de Fidel, mas com habilidade de administrador, Raúl se tornou formalmente o presidente de Cuba em fevereiro de 2008 e primeiro secretário do Partido Comunista (único) em abril de 2011, mostrando à cúpula do poder um pragmatismo que contrastou com sua imagem de homem rígido e implacável.
Foi Raúl quem implementou, na década de 1960, os campos de trabalho para homossexuais e outros malvistos pelo governo, que liderou o fechamento de uma revista de intelectuais em 1971 e que acusou um grupo de acadêmicos de "traidores" em 1966.
Entretanto, agora dialoga com bispos católicos, diminuiu a repressão aos opositores, abre espaço para a iniciativa privada na economia, acabou com diversas proibições que pesavam sobre os cubanos e retomou as relações diplomáticas com os Estados Unidos, após meio século de conflitos.
O general presidente, de 85 anos, procurou reformar o esgotado modelo econômico soviético, mas preservando os pontos principais do sistema: uma maior propriedade estatal e cooperativa, um partido único, além de educação, saúde e cultura gratuitas.
As reformas econômicas irão criar "uma sociedade menos igualitária, porém mais justa", declarou em fevereiro de 2013.
Com voz firme e autoritária, que segundo pessoas próximas contrasta com sua personalidade alegre e afável na intimidade, empreendeu uma batalha contra a corrupção, que levou à prisão dezenas de funcionários e alguns empresários estrangeiros.
Costuma combinar o uniforme militar com a guaiabeira (camisa típica da região do Caribe) e o terno de alfaiataria, e em 22 de fevereiro de 2013 mostrou seu senso de humor ao dizer a jornalistas que iria renunciar.
Em 2015, Cuba e Estados Unidos restabeleceram suas relações, que haviam sido rompidas em 1961. E em março de 2016, Raúl Castro recebeu Obama em uma visita a Havana, onde participaram de uma coletiva de imprensa e assistiram uma partida de beisebol.
Homem de poucas palavras, de discursos lidos e inmigo do improviso, permaneceu impassível diante das críticas da dissidência pela lentidão e pouca profundidade das reformas, e das pressões de setores que exigiam maior velocidade nas mudanças.
"Sem pressa, mas sem pausa", é seu lema.
Raúl acabou em 2013 com meio século de restrições dos cubanos para viajar ao exterior.
Em 2011 autorizou a compra e venda de casas e automóveis, proibido por décadas, e outorgou créditos a negócios privados como parte de uma de suas reformas, reduzindo o paternalismo estatal.
Como ministro das Forças Armadas desde o triunfo da revolução em 1959 até 2008, Raúl ocupou um posto-chave no período em que Havana apoiava guerrilhas em outros países e participava de campanhas militares na África (Etiópia 1977-1978; Angola 1975-1991).
Após assumir a Presidência, estabeleceu um governo composto por generais e coronéis, ao estilo de uma cadeia de comando militar, afastado de todo personalismo.
Em junho de 2007, enquanto organizava o governo e seu irmão Fidel estava gravemente doente, sua esposa Vilma Espín, companheira desde os tempos de guerrilha, morreu de câncer após anos de tratamento.
Vilma, que faleceu aos 77 anos, foi a verdadeira primeira-dama do regime, dada a personalidade discreta da esposa de Fidel, Dalia Soto del Valle.
Os cubanos, que desconheciam detalhes sobre a vida particular de Fidel, se surpreenderam ao ouvir o novo presidente se referir a conversas com seus netos.
Perplexos, também descobriram que o atlético segurança que seguia seus passos era um dos oito netos de Raúl; e que um de seus quatro filhos era a sexóloga Mariela Castro, que declarou guerra contra a homofobia em Cuba com o apoio de seu pai.
Raúl tem outra dois filhas, Débora e Nilsa, e seu filho Alejandro, coronel do Ministério do Interior, é seu braço direito.
Filho do agricultor galego Ángel Castro e da camponesa Lina Ruz, Raúl é o quarto de sete irmãos e até 2006 viveu atrás de Fidel.
Por iniciativa própria, o partido aprovou em 2012 restringir para 10 anos o tempo em um cargo de direção, limite que para ele se cumpre em 24 de fevereiro de 2018.