Mais de 50.000 pessoas fugiram ante o avanço das forças do regime sírio nos bairros rebeldes de Aleppo nos últimos quatro dias, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Entre os 50.000 deslocados, mais de 20.000 buscaram refúgio nos bairros da zona oeste e outros 30.000 seguiram para a área de Sheikh Maqsud, controlada pelas forças curdas, segundo o OSDH.
A fuga de civis é cada vez mais intensa nos bairros rebeldes da zona leste de Aleppo, ao mesmo tempo que pelo menos 21 pessoas morreram nesta quarta-feira vítimas ataques da forças do regime. O êxodo começou no fim de semana com a intensificação dos combates terrestres e dos bombardeios aéreos que permitiram às tropas de Bashar al-Assad avançar na zona rebelde e reconquistar algumas áreas.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) calculou na terça-feira à noite em 20.000 o número de civis que fugiram do leste de Aleppo durante as últimas 72 horas.
O presidente do conselho local dos bairros rebeldes do leste de Aleppo pediu nesta quarta-feira a instauração de um corredor de segurança para que os milhares de civis possam abandonar a cidade.
"Deixem os civis saírem, protejam os civis, estabeleçam um corredor para que possam ir embora", declarou Brita Hagi Hassan, depois de um encontro, em Paris, com o chanceler francês Jean-Marc Ayrault.
A "lenta descida ao inferno" do leste de Aleppo, como descreveu uma fonte da ONU, será tema de uma reunião do Conselho de Segurança nesta quarta-feira em Aleppo.
Cercados há quatro meses, sem alimentos, remédios e energia elétrica, cada vez mais habitantes do leste de Aleppo tentam fugir dos combates terrestres, do fogo da artilharia e dos incessantes bombardeios aéreos.
"Os que fogem estão em uma situação desesperada. Muitos perderam tudo e chegam sem qualquer bagagem. É de partir o coração", disse Pawel Krysiek, diretor de comunicação da Cruz Vermelha na Síria.
"Nossa prioridade é ajudar as pessoas o mais rápido possível", completou.
No frio, famílias inteiras aguardam no bairro de Khabal Badro antes de subir em um ônibus fornecido pelas autoridades para seguir até os bairros controlados pelo regime, na zona oeste.
Os idosos recebiam ajuda para caminhar ou se deslocavam em cadeiras de rodas improvisadas. Muitos pais carregavam os filhos no colo.
As forças do regime, que conquistaram um terço do leste de Aleppo desde domingo, avançavam para o sudeste da zona rebelde com a ajuda de combatentes estrangeiros.
Novos disparos de artilharia mataram pelo menos 21 pessoas nesta quarta-feira, incluindo duas crianças, e deixaram dezenas de feridos no bairro rebelde de Jebb al Qobbeh, segundo o OSDH.
Muitas vítimas estavam bloqueadas sob os escombros dos prédios que desabaram, afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Os capacetes brancos, o serviço de emergências na zona rebelde, informou que os disparos atingiram um grupo de civis que tentava fugir dos combates.
Desde o início da ofensiva do regime em 15 de novembro, quase 300 pessoas morreram no leste de Aleppo, de acordo com a organização. Os rebeldes mataram ao menos 48 civis com disparos de foguetes contra os bairros governamentais.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quarta-feira em Nova York para analisar a situação em Aleppo, de acordo com fontes diplomáticas. Em Nova York, os 15 embaixadores do Conselho de Segurança da ONU devem abordar a situação em Aleppo em uma reunião urgente solicitada pela França, com a participação do mediador da ONU na Síria, Staffan de Mistura, por videoconferência.
A situação é "alarmante e aterradora", afirmou na terça-feira o secretário de operações humanitárias da ONU, Stephen O'Brien.
"Quase nenhum hospital está aberto e as reservas de alimentos estão praticamente esgotadas", disse.
O embaixador britânico na ONU, Matthew Rycroft, afirmou que as Nações Unidas "têm um plano" para socorrer os habitantes do leste de Aleppo e retirar os feridos. De acordo com o diplomata, a oposição aceitou a proposta.
"Peço à Rússia que faça o possível para que o regime sírio aprove o plano", disse.
Moscou, principal aliado de Damasco, denunciou na terça-feira o que chamou de "cegueira" dos ocidentais a respeito de Aleppo e comemorou a "mudança radical" da situação na segunda maior cidade da Síria com as últimas operações.
Para os analistas, a perda de seu reduto em Aleppo representaria uma derrota muito dura para a oposição, que está fragilizada política e militarmente após cinco anos e meio de guerra.