Brasil e Argentina esperam que a Venezuela cumpra "o quanto antes" os compromissos do Mercosul para se reintegrar plenamente ao bloco, afirmou nesta quinta-feira em Brasília a chanceler argentina, Susana Malcorra.
"Quando houver uma adequação de normas legais internas, leis, regulamentos, que ponham a Venezuela em pé de igualdade com o restante dos membros, passará novamente a ser um membro de plenos direitos. Enquanto isso, está na situação em que está", afirmou a ministra em coletiva de imprensa conjunta com seu contraparte brasileiro, José Serra, ao informar sobre a reunião bilateral que ambos acabavam de celebrar.
Os quatro países fundadores do Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - suspenderam a Venezuela do bloco em 1º de dezembro, quando se cumpriu o prazo de três meses dado pelo governo de Nicolás Maduro para que incorporasse à legislação uma série de dispositivos comerciais e políticas, inclusive a de respeito aos direitos humanos.
Malcorra disse que não se trata de uma suspensão, mas de uma cessação da participação de Caracas no Mercosul.
"Você não pode ser membro de um clube, ter os direitos de acesso e não cumprir as obrigações", ilustrou.
"Nossa expectativa, nossa esperança é que a Venezuela avance nestes compromissos assumidos o quanto antes", respondeu, ao ser consultada sobre o caráter reversível da decisão dos sócios fundadores.
A Venezuela - que entrou no Mercosul em 2012 - deveria assumir a presidência semestral do grupo em meados do ano, mas os demais países não o reconhecem nesta função e governam o bloco de forma colegiada.
A passagem da presidência mergulhou o Mercosul em uma das piores crises desde a sua fundação, em 1991.
Após a suspensão, Caracas iniciou os trâmites para ativar um mecanismo de resolução de controvérsias, para que tenha reconhecida a presidência rotativa.
"Parece válido para nós", avaliou a chanceler argentina.
Serra e Malcorra se reuniram em Brasília para debater diversos temas de integração bilateral, entre eles a negociação em curso entre o Mercosul e a União Europeia (UE) para alcançar um acordo de livre comércio.
Com exceção da Venezuela, os países do bloco latino-americano trocaram em maio ofertas alfandegárias com os europeus.
Malcorra destacou que "a chegada ao governo do presidente eleito, Donald Trump, nos Estados Unidos, vai por um freio ao acordo entre EUA e Europa" e que isto significa uma "oportunidade para mover a agenda do Mercosul o mais rapidamente possível".
A UE e o Mercosul retomaram em 2010, após seis meses de paralisia, estas negociações que buscam desde 1999 criar um espaço de livre comércio de 760 milhões de habitantes.