Retirada de civis de Aleppo é suspensa após retomada dos combates

Regime sírio retomou seus bombardeios aéreos e disparos de artilharia, empurrando moradores a fugir pelas ruas de Aleppo em busca de refúgio
AFP
Publicado em 14/12/2016 às 21:41
Regime sírio retomou seus bombardeios aéreos e disparos de artilharia, empurrando moradores a fugir pelas ruas de Aleppo em busca de refúgio Foto: Foto: George OURFALIAN / AFP


Intensos combates foram retomados nesta quarta-feira (14) entre os soldados e os rebeldes em Aleppo, a segunda cidade da Síria, onde as esperanças de retirada rápida de milhares de civis famintos e doentes caíram por terra.

Um acordo fechado na véspera (13), sob os auspícios de Moscou e Ancara, deveria permitir a evacuação dos rebeldes e de milhares de civis famintos e desesperados por sair dos poucos bairros que permanecem nas mãos dos rebeldes.

Mas, após um cessar-fogo de várias horas, o regime retomou seus bombardeios aéreos e disparos de artilharia, empurrando os moradores a fugir pelas ruas em busca de refúgio, segundo um correspondente da AFP que viu muitos feridos ao seu redor.

"A situação é horrível neste momento em Aleppo", escreveu o militante Mohamad Al-Khatib, contatado pela AFP pela Internet.

"Os feridos e os mortos estão nas ruas, ninguém se atreve a retirá-los", completou.

A perda de Aleppo representaria o fim da resistência dos rebeldes no leste da cidade, onde teriam se instalado em 2012, e seria a maior vitória do governo desde o início da guerra em 2011.

"Voltamos à estaca zero", resumiu o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

Reunião em Moscou

Nesta quarta-feira, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, anunciou que Turquia, Irã e Rússia terão um encontro em 27 de dezembro, em Moscou, para estudar uma solução política para o conflito que deixou mais de 312.000 mortos na Síria.

A Rússia, um dos maiores aliados de Damasco,acusou os rebeldes de terem retomado os combates, enquanto Ancara, apoio dos rebeldes, culpava as tropas do governo de romper o cessar-fogo.

Cerca de 20 veículos aguardavam hoje no bairro de Salahedin, dividido entre o governo e os rebeldes, com vistas a uma evacuação que devia ter começado à 1h de Brasília.

E milhares de moradores esperaram em vão na hora de embarcar nesses veículos, apesar do frio e da chuva.

Grupos rebeldes sírios anunciaram nesta quarta-feira um novo acordo para evacuar na quinta-feira os feridos e civis dos bairros rebeldes. A informação foi desmentida por uma fonte próxima ao regime de Damasco.

"Não há acordo, as negociações seguem adiante", afirmou.

Entretanto, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu contraparte russo, Vladimir Putin, concordaram, em um telefonema, que as violações do cessar-fogo devem cessar.

Os dois chefes de Estado se mostraram, ainda, dispostos a retomar a evacuação dos civis e dos rebeldes "tão logo quanto possível", segundo uma fonte da Presidência turca.

Condições para um acordo

De acordo com um dirigente rebelde, Damasco e seu aliado iraniano "querem condicionar o acordo" a uma suspensão do cerco rebelde às cidades de Fuaa e Kafraya, controlados pelo governo na província noroeste de Idleb.

Uma fonte próxima ao poder acusou os rebeldes, por sua vez, de terem tentado aumentar o número de pessoas evacuadas de 2.000 a 10.000.

Como explicou à AFP o encarregado do influente grupo Nuredin Al-Zinkim, Yasser Al Yussef, o acordo previa que "os feridos e os civis" foram evacuados em primeiro lugar, seguidos dos rebeldes, para as províncias de Aleppo ou de Idleb.

No leste de Aleppo, "cerca de 100.000 pessoas continuam presas em um território de cinco quilômetros quadrados", segundo a ONG Médicos do Mundo.

Os chefes da diplomacia russa e americana também falaram por telefone, e Serguei Lavrov aproveitou para pedir a John Kerry que fizesse pressão sobre os rebeldes para convencê-los a deixar Aleppo, segundo um comunicado da diplomacia russa.

Washington e Paris pediram a presença de observadores internacionais para supervisionar uma possível evacuação.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos indicou que "pelo menos 82 civis" morreram nos bairros recuperados pelas forças do regime, suscitando a indignação da comunidade internacional.

As Nações Unidas acusaram, ainda, vários grupos rebeldes, entre eles o Fateh al-Sham (ex-braço sírio da Al-Qaeda), de impedir que os civis deixassem os bairros do leste de Aleppo para usá-los como escudos humanos.

No total, mais de 465 habitantes do leste de Aleppo, entre eles 62 crianças, morreram desde o começo da ofensiva do governo em 15 de novembro. As tropas conseguiram retomar 90% da cidade.

Na parte governamental, 142 civis foram mortos pelos rebeldes.

No Irã, outro aliado de Damasco, o presidente Hassan Rohani cumprimentou seu contraparte sírio, Bashar al-Assad, por "uma grandíssima vitória para o povo sírio contra os terroristas e contra os que os apoiam".

Para o general iraniano Yahya Safavi, alto conselheiro do guia supremo, seu país já é "a primeira potência na região".

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