Regime sírio pede que últimos rebeldes deixem Aleppo

Depois de completar a retirada, o regime de Bashar al-Assad deve declarar a "libertação" da cidade
AFP
Publicado em 20/12/2016 às 12:26
Depois de completar a retirada, o regime de Bashar al-Assad deve declarar a "libertação" da cidade Foto: FOTO: GEORGE OURFALIAN / AFP


O regime sírio exortou nesta terça-feira (20) os últimos rebeldes a deixar Aleppo para finalizar a sua mais importante vitória desde o início da guerra, com a retomada completa da segunda maior cidade do país em guerra.

Ao mesmo tempo, a Rússia, o Irã e a Turquia manifestaram o seu apoio para um cessar-fogo "expandido" na Síria e se disseram prontos para serem "fiadores" das negociações de paz, em uma declaração conjunta após discussões de seus chanceleres em Moscou.

Em virtude um acordo patrocinado pelos três países, cerca de 25.000 pessoas, rebeldes e civis, foram evacuadas da cidade de Aleppo desde quinta-feira, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Depois de completar a retirada, o regime de Bashar al-Assad deve declarar a "libertação" da cidade, seu maior sucesso em quase seis anos de guerra que deixou mais de 310.000 mortos.

Esta vitória é também a de Rússia e do Irã, aliados do regime sírio a quem ambos os países fornecem apoio militar crucial.

Nesta terça-feira, o exército lançou um apelo através de alto-falantes aos rebeldes e civis para que deixem o reduto rebelde de Aleppo, indicou uma fonte militar síria à AFP. "O exército quer limpar a área após a saída dos homens armados".

Milhares de pessoas ainda esperam ser evacuados da zona rebelde, disse uma porta-voz do CICV, Ingy Sidqi.

De acordo com o chanceler russo, Sergei Lavrov, a evacuação de civis "terminará no prazo máximo de dois dias".

'Estado lamentável'

Nesta manhã, oito ônibus chegaram de Aleppo com evacuados a bordo, incluindo feridos, informou uma autoridade da União das organizações de ajuda e assistência médica, Bashar Babbour.

"Seu estado é lamentável, todo mundo sentia frio (...) havia um velho que tremia", relatou.

Antes de serem evacuados na segunda-feira, muitos foram aqueles a fotografar Aleppo com seus telefones celulares. "Talvez nós nunca mais voltaremos para a nossa cidade", confidenciou um deles, enquanto um senhor explodiu em lágrimas.

Minados pela fome, a maioria dos passageiros tinham o rosto emagrecido até o ponto de não se reconhecerem mais depois de experimentarem meses de cerco, encolhendo-se para se protegerem dos bombardeios constantes do regime.

Para chegar na zona rebelde, eles devem atravessar três barreiras detidas pelas forças que os bombardearam e cercaram: as do exército, a dos russos e a terceira, controlada por milicianos iranianos e iraquianos, todos aliados do regime.

Em troca da evacuação de Aleppo, 750 pessoas deixaram Foua e Kafraya, duas cidades xiitas sitiadas pelos rebeldes extremistas a província de Idleb (noroeste), vizinha a de Aleppo e quase inteiramente controlado pelos rebeldes, de acordo com o CICV. Estas evacuações devem continuar nesta terça-feira.

Um mês após o início, em 15 de novembro, de uma ofensiva aérea e terrestre pelo regime de Assad e seus aliados, que devastou o enclave rebelde, a operação de evacuação começou quinta-feira.

Por iniciativa da França, o Conselho de Segurança da ONU votou por unanimidade uma resolução que prevê o envio de pessoal humanitário para monitorar a evacuação e avaliar a situação dos civis.

'Garantidores' das negociações de paz

Com esta resolução, o objetivo da França é "evitar uma nova Srebrenica", cidade da Bósnia onde, em 1995, foi cometido o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, disse o embaixador francês, François Delattre, enquanto a ONU e ONGs internacionais denunciam atrocidades cometidas pelo regime nos setores reconquistados de Aleppo.

O emissário das Nações Unidas, Staffan de Mistura, anunciou por sua vez sua intenção de convocar negociações em 8 de fevereiro em Genebra, mas não há indicações sobre eventuais respostas dos principais protagonistas.

Reunidos em Moscou, os chefes da diplomacia da Rússia, do Irã e da Turquia, que apoia os rebeldes, ressaltaram que estão preparados para serem os "garantidores" das negociações de paz entre o regime sírio e a oposição.

O apoio da Rússia a Damasco foi crucial para reverter a situação em favor do regime. O Irã também anunciou nesta terça que compartilharia uma base na Síria com a Rússia.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que havia acordado com Vladimir Putin para continuar a sua cooperação sobre a Síria, apesar do assassinato do embaixador da Rússia em Ancara por um policial turco que disse agir em vingança ao drama de Aleppo.

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