Mais de mil habitantes da zona rebelde do leste de Aleppo foram evacuados de forma gradual, nesta quarta-feira (21), em meio a uma tempestade de neve, o que dificultou a saída dos comboios da segunda maior cidade da Síria.
O processo de evacuação da zona leste da cidade acontece a um ritmo irregular e chegou a ser suspenso no fim de semana passado, após divergências entre as partes a respeito da retirada de moradores de duas localidades xiitas cercadas pelos rebeldes na província vizinha de Idlib.
O fim do processo de retirada significará a mais importante vitória militar do governo sírio desde 2011, quando teve início a guerra devastadora, que provocou a morte de 310.000 pessoas e o deslocamento de metade da população do país.
Os habitantes que ainda restam no leste de Aleppo, incluindo muitas mulheres, crianças e idosos, esperaram sob a neve para sair da cidade onde viveram cercados durante meses, sofrendo os bombardeios de aviões sírios e russos.
Depois de uma detenção de 24 horas, "20 ônibus transportando homens armados e suas famílias" deixaram Aleppo em direção aos territórios sob controle rebelde ao oeste dessa cidade, anunciou a televisão estatal.
Esse comboio transportava pelo menos 1.500 pessoas, entre elas 20 feridos, segundo Ahmad al-Dbis, chefe de uma unidade de médicos e voluntários que coordena as retiradas em Khan al-Assal, ponto de acolhida na zona rebelde.
O número de pessoas que permanecem no reduto rebelde não está claro até o momento.
Uma fonte militar síria disse esperar que a evacuação dos últimos habitantes do leste de Aleppo termine nesta quarta, mas os frequentes atrasos e a meteorologia colocam dúvidas a esse respeito.
"Todas as evacuação serão concluídas hoje, em vários comboios", disse à AFP um integrante do grupo rebelde Ahrar al-Sham, Ahmad Qorra Ali.
Sob uma intensa nevasca, vários ônibus atravessaram Ramusa, um bairro periférico no setor governamental, pelo qual os evacuados transitam.
"Os ônibus não têm aquecedor. Os passageiros, mulheres, crianças e idosos, sofrem com o frio. Não têm água, nem alimentos", advertiu Al Dbis.
O diretor para o Oriente Médio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), Robert Mardini, tuitou que "as condições climáticas são difíceis, e as pessoas estão esgotadas.
"Todos os feridos e doentes em estado crítico foram evacuados Aleppo nesses últimos dias", disse à AFP uma porta-voz do CICR, Ingy Sedky.
Mais de 25.000 pessoas, rebeldes e civis, abandonaram Aleppo desde 15 de dezembro, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Milhares de moradores ainda aguardam a transferência para outros pontos da cidade.
Além das condições climáticas, a demora para a retirada também foi motivada pela necessidade de sincronizar as saídas de Aleppo com as das localidades xiitas de Fua e Kafraya, na província de Idlib, cercadas pelos rebeldes, informou à AFP uma fonte militar síria.
"Mais de 1.700 pessoas esperam para sair de Fua e Kafraya", disse a fonte.
O acordo, com mediação da Rússia, Turquia e Irã, prevê que as saídas de Aleppo e das duas localidades xiitas devem acontecer de maneira simultânea.
A fonte militar síria espera a conclusão da retirada dos últimos moradores da parte rebelde de Aleppo nesta quarta-feira.
Com os últimos atrasos e dificuldades, algumas fontes acreditam que será necessário esperar um pouco mais.
Outra fonte militar síria disse à AFP que o Exército deseja "limpar rapidamente a zona após a saída dos homens armados".
Na segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade o envio de 20 observadores "nacionais e internacionais" para supervisionar a retirada e informar sobre a situação dos civis.
A crise síria parece ter ficado nas mãos da Rússia e do Irã, aliados indefectíveis do governo sírio, e da Turquia, que apoia os rebeldes, após a reunião dos ministros das Relações Exteriores das três nações na terça-feira em Moscou. O encontro não contou com a presença de Estados Unidos nem das potências europeias.
Os três países afirmaram que são favoráveis a um cessar-fogo "ampliado" na Síria e que estão dispostos a atuar como "avalistas" das conversas de paz que a ONU diz preparar para fevereiro em Genebra.