A Rússia prestou uma homenagem nacional nesta quinta-feira (22) a seu embaixador assassinado na Turquia, um crime que Ancara atribuiu ao movimento do pregador Fethullah Gulen, apesar de Moscou afirmar que é prematuro para identificar os responsáveis.
O caixão de Andrei Karlov, cujo corpo foi repatriado na terça-feira, está na sede do ministério russo das Relações Exteriores, ao lado de uma bandeira do país e vigiado pela Guarda de Honra.
O presidente Vladimir Putin, o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, o chefe da diplomacia Serguei Lavrov e o conjunto da élite política compareceram para prestar homenagens a Karlov.
O embaixador, de 62 anos, "foi vítima de um ato terrorista covarde e terrível, enquanto exercia seu dever profissional", declarou Lavrov, diante da esposa e do filho do embaixador assassinado na Turquia.
Putin concedeu na quarta-feira o título de herói da Rússia a Karlov em caráter póstumo por sua "coragem e grande contribuição" à política externa russa.
O presidente comparecerá nesta quinta-feira a uma missa na catedral de Cristo Salvador em Moscou.
O assassinato do diplomata por um policial turco em uma galeria de arte na segunda-feira em Ancara foi denunciado por Rússia e Turquia como uma "provocação", com o objetivo de minar as relações que os dois países estão restabelecendo após quase um ano de crise.
As duas nações estão em lados opostos na guerra da Síria: a Rússia apoia o regime de Bashar al-Assad e a Turquia os rebeldes que lutam contra ele.
Diante das câmeras, Mevlüt Mert Altintas, um policial de 22 anos, atirou nove vezes contra o embaixador Karlov, gritou "Allah Akbar" (Deus é grande) e afirmou que pretendia vingar a tragédia na cidade síria de Aleppo, antes de ser morto.
Apesar das declarações, que parecem vincular o assassinato à situação na Síria, os investigadores turcos privilegiam a pista do movimento de Fethullah Gulen, inimigo do presidente Recep Tayyip Erdogan, que o acusa de ter planejado a tentativa de golpe de Estado de julho.
O policial era "um membro da organização terrorista FETO (acrônimo que designa o movimento de Gulen), não há necessidade de esconder", declarou Erdogan na quarta-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que não se deve tirar conclusões apressadas" e pediu que as pessoas "aguardem os resultados do trabalho dos investigadores".
Um fato inédito, a Turquia aceitou a participação na investigação de 18 policiais, agentes dos serviços secretos e diplomatas russos.
- 'Provas sólidas' -
"É provável que os russos não se conformem com explicações como: 'o assassino de Karlov é um gulenista', afirmou Murat Yetkin, chefe de redação do jornal turco Hürriyet.
"Pedirão provas sólidas", completou.
De acordo com a imprensa, os investigadores encontraram livros sobre a organização de Gulen durante uma operação de busca na casa de Altintas.
As autoridades turcas liberaram nesta quinta-feira os integrantes da família do homicida: seus pais, sua irmã, dois tios e uma tia, que estavam em detenção preventiva desde segunda-feira, informou a agência Anadolu.
Os investigadores procuram 120 pessoas relacionadas com o assassinato, de acordo com a agência.
O governo turco apresenta com frequência Gulen, que negou qualquer envolvimento na tentativa de golpe de Estado de julho, como o principal suspeito dos males que afetam o país.
Gulen, que tem a extradição solicitada por Ancara aos Estados Unidos em vão, afirmou estar "comovido e muito triste" com o assassinato do embaixador russo.