Um cessar-fogo global na Síria entre o regime e os rebeldes deve entrar em vigor nesta quinta-feira (29) à meia-noite antes do início das negociações de paz, em virtude de um acordo promovido pela Rússia e a Turquia, mas sem os Estados Unidos.
O acordo, que visa abrir o caminho para resolver o conflito no país, é anunciado exatamente uma semana após a retomada total da cidade de Aleppo pelo regime sírio apoioado pela Rússia, bem como por combatentes iranianos, iraquianos e libaneses.
Após vários encontros na Turquia, que apoia a rebelião, entre enviados russos e representantes rebeldes, o presidente russo Vladimir Putin anunciou a entrada em vigor de uma trégua na Síria à meia-noite.
"Um evento aconteceu há algumas horas. Não apenas esperávamos há muito tempo, mas também trabalhamos muito para isso", afirmou Putin durante uma reunião com seus ministros da Defesa, Sergueï Choïgou, e das Relações Exteriores, Sergueï Lavrov.
"Três documentos foram assinados: o primeiro é entre o governo sírio e a oposição armada sobre o cessar-fogo em todo o território sírio", acrescentando, explicando que os outros documentos dizem respeito a negociações de paz.
Já o exército sírio anunciou "uma parada total das operações militares" que deve entrar em vigor à meia-noite em todo o território sírio.
O acordo exclui, no entanto, os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) e do Fateh al-Cham, ex-ramo sírio da Al-Qaeda, segundo um comunicado do gorverno publicado pela agência síria Sana.
A Coalização Nacional Síria (CNS), a principal formação de oposição no exílio, igualmente anunciou seu apoio ao cessar-fogo, segundo seu porta-voz Ahmad Ramadan.
"A coalizão nacional apoia o acordo, e chama todas as partes a respeitá-lo", afirmou.
O emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, saudou o acordo e expressou sua esperança de que permita ajudar os civis.
O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, declarou que o cessar-fogo foi aprovado "pelas principais forças" da rebelião. No total, sete grupos rebeldes, incluindo o poderoso Ahrar al-Cham, assinaram o acordo.
Vários acordos de cessar-fogo já foram concluídos na Síria, negociados por Washington e Moscou, mas todos fracassaram rapidamente.
Desta vez, os Estados Unidos não foram incluídos nas negociações em curso entre a Turquia e a Rússia.
Segundo o Kremlin, Vladimir Putin e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan "se disseram satisfeitos com os acordos obtidos via mediação da Rússia e da Turquia", durante um telefonema.
Eles "defenderam um reforço da cooperação antiterrorista" e também "ressaltou a importância dos esforços em curso para organizar as negociações em Astana", capital do Cazaquistão.
Pouco antes, Cavusoglu havia assegurado que em caso de sucesso, este acordo conduziria a negociações políticas entre o regime de Bashar al-Assad e a oposição síria em Astana.
Astana não é uma "alternativa à Genebra", onde deve acontecer negociações sob os auspícios da ONU em fevereiro, ressaltou o ministro, acrescentando que "será uma etapa complementar sob a nossa supervisão", em referência ao seu país e à Rússia.
Quinze meses após o início da intervenção russa na Síria, o presidente russo também anunciou uma redução da sua presença militar no país, onde a sua aviação conduz uma campanha de ataques aéreos em apoio ao governo de Damasco.
"Estou de acordo com a proposta do ministério da Defesa sobre uma redução de nossa presença militar na Síria", afirmou Putin.
Contudo, "iremos continuar com a nossa luta contra o terrorismo internacional", garantiu.
Rússia e Turquia estão muito envolvidos no conflito na Síria, onde apoiam lados opostos: Ancara apoia os rebeldes, enquanto Moscou, assim como Teerã, é aliado de Damasco.
A cooperação russo-turca possibilitou há duas semanas um cessar-fogo na cidade de Aleppo, permitindo a evacuação de milhares de pessoas das áreas controladas pelos rebeldes.
Esta cooperação se intensificou desde o aquecimento das relações entre os dois países, após uma crise diplomática provocada pela destruição de um caça russo pela Turquia na fronteira síria no final de 2015.
Após o anúncio da nova trégua, a agência de notícias turca Dogan afirmou que aviões russos bombardearam na madrugada desta quinta alvos do grupo Estados Islâmico na parte sul de Al-Bab, reduto jihadista que rebeldes sírios apoiados por Ancara tentam controlar.
Não está claro, em um primeiro momento, se estes ataques foram realizados de forma coordenada entre Moscou e Ancara, que acusou esta semana a coalizão antijihadista liderada pelos Estados Unidos de não apoiar suas operações na Síria.
A Turquia também tem se mostrado cada vez mais descontente com o apoio prestado pelos Estados Unidos às milícias curdas na Síria para lutar contra o EI.
Ancara considera essas milícias aliadas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo classificado de "organização terrorista" por parte da Turquia.
Desde o início da guerra, em março de 2011, o conflito na Síria já custou mais de 310.000 vidas e levou milhões de sírios ao exílio. Nesta quinta-feira, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) anunciou a morte de 7 civis, incluindo 3 crianças, em ataques do regime na região de Ghouta oriental, perto de Damasco.