O senado do Paraguai, dominado por partidários do presidente Horacio Cartes, aprovou nesta sexta-feira a reeleição presidencial, o que deflagrou incidentes entre a polícia e manifestantes opositores, que invadiram o prédio do Congresso, em Assunção.
No total, 25 dos 45 senadores votaram a favor da emenda que institui a reeleição.
A emenda deverá ser ratificada neste sábado pela Câmara dos Deputados, também controlada pelos governistas.
Os senadores não votaram no plenário do Senado, e sim em um gabinete do Congresso, diante da resistência de legisladores da oposição contra a medida, que permitirá a Cartes buscar a reeleição.
A emenda foi apoiada por opositores ligados ao ex-presidente de esquerda Fernando Lugo, mas o restante da oposição denunciou a medida como um "golpe parlamentar".
Após ser confirmada pela Câmara dos Deputados, a emenda será submetida a um referendo nacional, no prazo de três meses, convocado pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.
A decisão dos senadores provocou uma forte reação de partidários da oposição, que invadiram o prédio do Congresso, apesar da ação da polícia de choque.
Aos gritos de "Ditadura nunca mais", centenas de opositores entraram no prédio legislativo após destruir barreiras, portões e janelas.
Os opositores invadiram e saquearam gabinetes de congressistas favoráveis à emenda, e atearam fogo em alguns setores do prédio, segundo imagens da TV local.
O alarme de incêndio soou por vários minutos enquanto labaredas e fumaça saíam de algumas zonas do prédio.
"Garantimos que a polícia não voltará a reprimir. Pedimos que não derrubem as barreiras, que não tentem entrar no prédio do Congresso. Pedimos calma, tranquilidade", disse em tom desesperado o comandante da polícia, comissário Críspulo Sotelo.
"Pedimos que não nos provoquem. Temos que garantir a segurança do prédio" do Congresso, declarou Sotelo na TV.
Segundo os bombeiros, os confrontos deixaram ao menos 30 feridos.
Antes da invasão do Congresso, a polícia de choque havia enfrentado os manifestantes com balas de borracha e golpes de cassetete, provocando ao menos 12 feridos, incluindo o presidente do Senado, Roberto Acevedo, o presidente do Partido Liberal, Efrain Alegre, e o deputado Edgar Ortíz, também liberal, segundo o senador opositor Luis Wagner.
Acevedo, o primeiro vice-presidente do Senado, Eduardo Petta, e outros legisladores da oposição ocuparam o plenário da Casa para impedir a votação, que ocorreu em um gabinete.
Acevedo denunciou na quinta-feira, na Corte Suprema de Justiça, os senadores governistas por abuso de função e atentado à ordem constitucional.
"Queremos que o plenário da Corte Suprema de Justiça declare inconstitucional este procedimento ilegal".
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Velázquez, admitiu ter recebido o projeto e informou que irá votá-lo no plenário da Casa neste sábado.
Cartes tem uma folgada maioria na Câmara dos Deputados, integrada por 80 legisladores.
"Queremos que o povo decida se quer ou não a reeleição, e não será uma minoria (parlamentar) que impedirá isto", disse a senadora Lilian Samaniego, presidente do Partido Colorado.
O senador Carlos Filizzola, ligado ao ex-presidente Lugo, disse que a oposição liderada por Acevedo não permitiu a votação no plenário do Senado, o que obrigou os senadores a votar a emenda em outra sala.
"A sessão de hoje com os 25 senadores ocorreu como estabelece o regimento e também a Constituição Nacional", destacou Filizzola.
Mas os senadores contrários ao projeto qualificaram a votação de "golpe parlamentar".
"É um projeto ditatorial de Horacio Cartes com a cumplicidade de Fernando Lugo, coautor deste projeto autoritário", declarou o senador opositor Carlos Amarilla.