Cidades sitiadas na Síria são evacuadas

Civis e combatentes deixaram quatro cidades sitiadas por rebeldes e pelo regime de Assad. Pelo menos cinco mil pessoas foram vistas chegando em cidade a leste de Alepp a bordo de ônibus e ambulâncias
AFP
Publicado em 14/04/2017 às 8:37
Civis e combatentes deixaram quatro cidades sitiadas por rebeldes e pelo regime de Assad. Pelo menos cinco mil pessoas foram vistas chegando em cidade a leste de Alepp a bordo de ônibus e ambulâncias Foto: Foto: AFP


Após uma longa espera, civis e combatentes começaram nesta sexta-feira (14) a deixar quatro cidades sob cerco na Síria, enquanto aliados do presidente Bashar al-Assad se reuniam em Moscou em meio a tensões EUA-Rússia.

Nas primeiras horas do dia, milhares de pessoas lotaram os ônibus que partiram ao mesmo tempo de duas cidades sitiadas pelos rebeldes, Fua e Kafraya, e de duas outras cercadas pelo regime, Madaya e Zabadani.

Esta operação complexa foi possível graças a um acordo entre todas as partes que foi patrocinado pelo Catar, que apoia os rebeldes, e o Irã, aliado do regime.

Em Rachidin, cidade a leste de Aleppo e controlada pela oposição, um correspondente da AFP viu a chegada de cerca de 5.000 habitantes de Fua e Kafraya a bordo de 80 ônibus e 20 ambulâncias.

Um grande número de mulheres, crianças e idosos estavam nestes veículos escoltados por combatentes, incluindo da ex-facção da Al-Qaeda na Síria, rebatizada de Fateh al-Sham.

"Não posso descrever o que sinto, mas espero ver um dia a harmonia voltar a reinar entre nós como era antes" da guerra, declarou um morador à AFP.

Como parte do acordo, os 16.000 habitantes de Fua e Kafraya devem se dirigir, passando por Rachidin, a Aleppo, Damasco ou Latakia (oeste), redutos do regime.

'Angústia' e 'raiva'
 

Enquanto isso, cerca de 65 ônibus deixaram Madaya e Zabadani, dois enclaves rebeldes sitiados pelas forças do governo na província de Damasco. Eles deviam se dirigir para a província rebelde de Idlib.

"As pessoas estão confusas. O sentimento que prevalece é a angústia, a tristeza e a raiva", afirma Mohamed Darwich, um médico de Madaya. "Nós não sabemos o que acontecerá com aqueles que permaneceram, e não sabemos o nosso destino. Esperamos voltar em breve. Ainda é nossa terra".

"É realmente difícil ver que nos cercaram e que nos fazem morrer de fome e que nos bombardeiam", testemunhou Amjad al-Maleh, outro residente de Madaya.

Mais de 30.000 pessoas devem ser evacuadas como parte do acordo concluído em março e que começou na quarta-feira com uma troca de prisioneiros.

Os combatentes obrigados a partir foram autorizados a manter suas armas leves.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), haveria 150 rebeldes em Zabadani que serão evacuados nesta sexta-feira, enquanto ilhares de civis escolheram permanecer em Madaya.

Reunião em Moscou
 

Em uma entrevista concedida na quarta-feira à AFP em Damasco, o presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que "os deslocamentos feitos neste contexto são obrigatórios". "Nós não temos escolha, e gostaríamos que todos pudessem permanecer em sua aldeia e sua cidade (...) Todos vão voltar para casa após a libertação", assegurou.

Por sua parte, a oposição chamou "as transferências forçadas de crimes contra a humanidade".

A ONU estima em pelo menos 600.000 o número de pessoas que vivem em áreas sitiadas, e em 4 milhões os que vivem em regiões de difícil acesso.

Na frente diplomática, em Moscou, onde os líderes da diplomacia iraniana e russa, cujos países são aliados de Damasco, e o ministro das Relações Exteriores da Síria, se reuniram para fazer um balanço da situação no terreno.

A reunião é realizada uma semana após o bombardeio dos Estados Unidos a uma base aérea síria em retaliação ao suposto ataque químico que fez 87 mortos em 4 de abril na cidade rebelde de Khan Sheikhun, no noroeste do país.

O governo americano acusa o regime de Bashar al-Assad e chamou o ataque de "crime de guerra".

Na entrevista à AFP, Assad assegurou por sua vez que o ataque químico foi "100% forjado" pelo "Ocidente, principalmente os Estados Unidos," para servir de desculpa para o ataque de 7 de abril contra a base aérea.

Declarações essas chamadas nesta sexta-feira de "100% mentiras" pelo chanceler francês Jean-Marc Ayrault.

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