Oposição venezuelana bloqueia ruas em protesto contra Maduro

A onda de manifestações contra Nicolás Maduro já dura seis semanas
AFP
Publicado em 15/05/2017 às 16:56
A onda de manifestações contra Nicolás Maduro já dura seis semanas Foto: Foto: Federico Parra/AFP


Sentados no asfalto ou de pé com bandeiras, milhares opositores bloqueiam nesta segunda-feira (15) importantes vias da Venezuela para não dar trégua em sua pressão contra o presidente Nicolás Maduro, que encara uma onda de protestos há seis semanas.

Sob o nome de "grande plantão contra a ditadura", o dia se estenderá por 12 horas até as 19h00 locais (20h00 de Brasília) em 50 pontos do país. Em Caracas é realizado na importante estrada Francisco Fajardo, onde alguns gritavam "Liberdade!".

Alguns jogam cartas, cantam, leem ou tocam violão, preparados para passar todo o dia nas ruas.

"É um dia de resistência, de paciência, de demonstrar organização e firmeza", declarou o deputado, ressaltando que o objetivo é "gerar uma espécie de ingovernabilidade".

Maduro enfrenta uma onda de protestos desde 1º de abril, que deixa 38 mortos e centenas de feridos e detidos, dos quais uma centena, segundo organizações de direitos humanos, estão sendo processados por tribunais militares.

"Não há liberdade, nos reprimem, não há comida e quando há é extremamente cara, seguirei nas ruas até que ocorra uma mudança", disse o docente Miguel Martínez.

A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) exige eleições gerais para resolver a grave crise política e econômica, que se reflete em uma forte escassez de alimentos e remédios, e na inflação mais alta do mundo, que chegaria a 720% neste ano, segundo o FMI.

"Meu pai faleceu por falta de medicamentOS. Não há comida e quando encontramos, está caríssima. Aqui matam por um celular", declarou Katty Biagioni, pedagoga de 43 anos.

"Queremos sair disso"
 

Nas manifestações, os opositores também rejeitam a convocação do presidente a uma Assembleia Nacional Constituinte popular, com a qual, segundo eles, busca evitar as eleições e se agarrar no poder.

Mas Maduro, cuja gestão é rejeitada por entre 70% e 80% dos venezuelanos, de acordo com pesquisas privadas, afirmou no fim de semana que "em 2018, com chuva, trovão ou relâmpagos, a Venezuela terá eleições presidenciais", como ordena a lei. 

Em dezembro, deveriam ter sido realizadas as eleições de governadores, mas o poder eleitoral as adiou e elas ainda não têm data, e neste ano estão previstas as de prefeitos.

Maduro afirma que a Constituinte é o único caminho para a paz, mas esta iniciativa aumentou a tensão política, já que ao menos a metade dos 500 assembleistas serão eleitos por setores sociais, nos quais o governo exerce forte influência, o que coloca em xeque o "voto universal".

"Não há forma de a Venezuela se calar (...) Enquanto houver ditadura, não haverá tranquilidade", disse Guevara.

A oposição realizou no sábado passado caravanas de veículos, bicicletas, motos e até de cavalos em várias regiões, e no domingo uma marcha por ocasião do Dia das Mães em Caracas.

"Queremos sair disso. Se tivermos que passar a vida inteira nas estradas, faremos isso", declarou à AFP María Fernández, de 56 anos.

Enquanto isso, Maduro, a quem as Forças Armadas declararam "lealdade incondicional", acusa seus adversários de promover "atos de terrorismo" para aplicar um "golpe de Estado".

O chefe do Parlamento, o opositor Julio Borge, pediu no domingo às Forças Armadas que iniciem um diálogo sobre a crise o país e que se coloquem "ao lado do povo".

Enquanto isso, A União Europeia pediu nesta segunda-feira uma solução pacífica na Venezuela e chamou "todas as partes" a se abster "de cometer atos violentos".

Em conclusões adotadas pelos chanceleres europeus, os 28 pedem que "todos os agentes políticos e as instituições da Venezuela trabalhem de forma construtiva em prol de uma solução para a crise", baseada no respeito aos direitos humanos e na separação de poderes.

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