O Ministério Público (MP) de Portugal abriu uma investigação para esclarecer "as causas e consequências do incêndio" que começou no sábado no centro do país, no qual morreram 64 pessoas e mais de 200 ficaram feridas.
O MP confirmou à Agência EFE a abertura do processo, que está sob "segredo judicial" e procura contribuir para esclarecer as circunstâncias da tragédia.
O fogo começou na tarde de sábado em Pedrogão Grande, no distrito de Leiria, provavelmente pelo impacto de um raio em uma árvore seca, segundo apontou a Polícia Judicial (PJ).
No entanto, a hipótese - que ainda precisa ser esclarecida através de uma investigação mais profunda - foi questionada pelo presidente da Liga dos Bombeiros de Portugal, Jaime Marta Soares, que se mostrou cético pela celeridade com a qual a explicação foi oferecida.
"Estou convencido de que o impacto de um raio caiu bem mais tarde do início do incêndio. O início do incêndio foi às 15h e o raio foi um pouco mais tarde, quando o incêndio já tinha grandes proporções", disse ele nesta quinta-feira (22).
Cinco dias depois do início das chamas, e já com o incêndio sob controle, as perguntas em Portugal também se dirigem para a gestão do fato, que engloba tanto organismos de alerta como de socorro.
Os responsáveis do Instituto Português de Mar e Atmosfera, a Guarda Nacional Republicana (GNR) e Proteção Civil foram questionados pelo primeiro-ministro António Costa, que indicou que, com base em informações das quais dispõe até o momento, não foram cometidos erros.
Enquanto isso, a imprensa portuguesa destaca hoje que o Ministério de Administração Interna não anunciou ainda a abertura de uma investigação sobre a tragédia.
Evacuados dois dias antes, os moradores de cerca de 40 vilarejos das montanhas acidentadas que dominam Góis começaram a voltar para suas casas que, em sua maioria, puderam ser salvas pelos bombeiros e alguns moradores que permaneceram na área, apesar do perigo.
"Numa altura em que os incêndios mais preocupantes foram controlados, tenho duas palavras para falar sobre esta tragédia humana sem precedentes: dor e solidariedade", declarou o primeiro-ministro Antonio Costa, numa coletiva de imprensa em Lisboa.
"É essencial elucidar claramente tudo o que aconteceu", acrescentou.
No dia anterior, sua ministra do Interior, Constança Urbano de Sousa, reconheceu falhas no sistema de comunicação do Estado.
O incêndio de Pedrógão Grande causou 64 vítimas fatais, das quais 43 foram identificadas. Entre essas vítimas, 47 morreram no sábado na estrada nacional 236, presas em seus carros enquanto tentavam escapar das chamas que se espalharam rapidamente.
"Os acontecimentos fatídicos da estrada N236-1 ocorreram em um contexto de fenômeno excepcional", escreveu o comandante-geral da gendarmeria em um documento enviado ao primeiro-ministro.
"O fogo atingiu a estrada de forma completamente inesperada, inusitada e terrivelmente súbita", acrescentou a gendarmeria em sua resposta à Costa, que na terça-feira cobrou "explicações rápidas" sobre o que aconteceu na nacional 236.
Diante das críticas por não ter impedido o tráfego nessa estrada, a gendarmeria alegou que não tinha, naquele momento, "informações sobre a existência de um risco potencial ou real desta rota".
O Instituto de Meteorologia de Portugal, ao qual Costa questionou se houve "circunstâncias incomuns que poderiam explicar a dimensão e a intensidade da tragédia", chamou a situação de especialmente "complexa e excepcional".
A agência descreveu assim uma catástrofe provocada, segundo ela, por "um vento de grande intensidade e pela própria dinâmica do fogo".
Este fenômeno de rajada de vento descendente, conhecido como 'downburst' em inglês, "às vezes é confundido com um tornado e tem um impacto importante no caso de incêndios florestais, uma vez que projeta fragmentos em várias direções", explicou o instituto.