Nomeado bispo o seminarista que papa protegeu na ditadura argentina

Então superior provincial dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, que seria eleito papa em 2013, acolheu Martínez Ossola e mais dois jovens seminaristas enviados pelo arcebispo de La Rioja
Estadão Conteúdo
Publicado em 24/06/2017 às 13:59
Então superior provincial dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, que seria eleito papa em 2013, acolheu Martínez Ossola e mais dois jovens seminaristas enviados pelo arcebispo de La Rioja Foto: Tiziana FABI / AFP


O papa Francisco nomeou bispo, como auxiliar da diocese de Santiago del Estero, na Argentina, o padre Enrique Martínez Ossola, que nos anos 1970 ele protegeu contra a ditadura, no Colégio Máximo, em San Miguel, nos arredores de Buenos Aires. Então superior provincial dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, que seria eleito papa em 2013, acolheu Martínez Ossola e mais dois jovens seminaristas enviados pelo arcebispo de La Rioja, supostamente para aprofundar seus estudos teológicos no renomado seminário da Companhia de Jesus.

O nome de Martinez Ossola consta na relação do livro A Lista de Bergoglio, do jornalista italiano Nello Scavo, que narra a atuação do papa Francisco, em defesa de cerca de 20 padres e seminaristas perseguidos pelo regime militar argentino. O arcebispo Enrique Angelelli, foi assassinado numa ação camuflada como acidente de carro, em agosto de 1976, ano seguinte à transferência dos seminaristas para o Colégio Máximo. Bergoglio estava no Peru e viajou imediatamente a San Miguel, ao saber do assassinato.

Bergoglio revelou então a Martínez Ossola e a seus dois colegas, Miguel La Civita y Carlos González, o verdadeiro motivo da ida deles para San Miguel - que era protegê-los da perseguição dos agentes da ditadura. "No colégio, fomos recebidos por um padre jovem, muito cordial", disse Martínez Ossola, em depoimento ao autor de A Lista de Bergoglio. "Era o padre provincial, máxima autoridade da Companhia de Jesus na Argentina, mas no início não nos demos conta do verdadeiro motivo",observou o novo bispo, acrescentando que Bergoglio lhe deu toda a liberdade no seminário, sem impor seque horário para almoçar e jantar.

O livro de Scavo desmente a versão divulgada após a eleição do papa de que Bergoglio, mais tarde cardeal-arcebispo de Buenos Aires, apoiou a ditadura, fechando os olhos para denúncias de prisões e mortes de religiosos. Martínez Ossola continuou amigo de seu protetor e manifestou mais uma vez sua gratidão na carta que escreveu a Francisco, após sua posse, como chefe da Igreja Católica, em março de 2013.

"Bergoglio continua sendo o mesmo"

Enrique Martínez Ossola, de 65 anos, nasceu na cidade de Córdoba em 3 de junho de 1952. Foi ordenado sacerdote em 1978 em La Rioja, diocese onde sempre exerceu seu ministério, como pároco em várias cidades e diretor da Junta Diocesana de Catequese e vice-presidente da Caritas. Ao ser nomeado bispo, era vigário geral da diocese.

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