O governo americano denunciou, nesta terça-feira (27), que o presidente sírio, Bashar al-Assad, está preparando um novo ataque com armas químicas para provocar o "massacre" de civis e advertiu que, se o ataque acontecer, Damasco pagará "um preço alto".
"Os Estados Unidos identificaram a possível preparação de outro ataque com armas químicas por parte do regime de Assad, que poderia provocar um massacre de civis, incluindo crianças inocentes", disse o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, em um comunicado divulgado na segunda-feira à noite.
De acordo com a Casa Branca, as atividades são similares aos preparativos que o regime realizou antes do ataque com armas químicas em 4 de abril de 2017 contra uma cidade controlada pelos rebeldes.
Na ocasião, em represália, Washington lançou 59 mísseis contra uma base aérea síria, a primeira intervenção armada dos Estados Unidos contra o governo de Damasco.
"Se Assad cometer outro assassinato em massa com um ataque de armas químicas, ele e seus militares pagarão um preço alto", advertiu Spicer.
"Qualquer novo ataque contra a população síria será atribuído a Assad, mas também à Rússia e ao Irã, que o ajudaram a matar seu próprio povo", declarou a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, ontem à noite, pelo Twitter.
Nesta terça-feira, o secretário britânico da Defesa, Michael Fallon, disse à rede BBC que seu país "apoiará" uma ação militar dos Estados Unidos, no caso de um ataque químico sírio.
Aliado fiel da Síria, a Rússia classificou as declarações de Washington como "inaceitáveis".
"Consideramos que tais ameaças contra o governo sírio são inaceitáveis", disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ressaltando que Moscou desconhece as "razões", ou provas, que motivam as acusações americanas.
"Se não houver investigação, culpar Assad é impossível, ilegítimo e injusto", completou Peskov.
Assad nega, reiteradamente, que suas forças tenham usado armas químicas em abril contra a cidade rebelde de Khan Sheikhun, alegando que essas alegações "foram 100% fabricadas". O ataque deixou 88 mortos, incluindo 31 menores, e gerou uma onda de indignação na comunidade internacional.
O presidente americano, Donald Trump, chegou a expressar sua indignação com o ataque de abril, devido, sobretudo, ao elevado número de crianças entre os mortos.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), esse bombardeio foi o segundo "ataque químico" mais sangrento desde o início do conflito em 2011. No primeiro, em 2013, usou-se gás sarin contra o subúrbio de Damasco. Pelo menos 1.400 pessoas morreram.
O presidente sírio garante que seu governo entregou em 2013 todas as armas químicas que tinha em seu poder com base no acordo negociado com a Rússia, para evitar a ameaça de um ataque dos Estados Unidos. O acordo foi posteriormente referendado em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
O secretário americano da Defesa, Jim Mattis, disse, porém, não ter "a menor dúvida" de que Damasco manteve armas químicas. Segundo um estudo militar israelense, Assad ainda dispõe de "algumas toneladas" de armas químicas.
Nesse cenário, o porta-voz da Casa Branca lembrou, em sua nota de ontem, que "os Estados Unidos estão na Síria para eliminar o Estado Islâmico da Síria e do Iraque", e não para lançar uma guerra contra Assad.
A declaração de Spicer foi corroborada por Mattis pouco depois.
"Não atacaremos a menos que seja o inimigo, a menos que seja o Isis [acrônimo usado pelo governo americano para se referir ao EI]", declarou o chefe do Pentágono aos jornalistas que o acompanham em viagem pela Europa.
A coalizão liderada pelos EUA na Síria apoia as forças rebeldes curdo-árabes que tentam reconquistar Raqa das mãos do Estado Islâmico e também ajudam as forças iraquianas a combater o grupo em Mossul, no Iraque. Enquanto isso, Assad conta com o apoio de bombardeios russos e do Irã.
A guerra síria começou em 2011 com protestos contra o governo até se transformar em um devastador conflito. Pelo menos 320 mil pessoas já morreram.