O presidente Donald Trump se encontra novamente em meio a uma crise administrativa ante a repentina demissão de seu porta-voz, Sean Spicer, que não concordou com a nomeação de Anthony Scaramucci como novo chefe de Comunicações da Casa Branca.
"Foi uma honra e um privilégio servir a Trump e ao país", declarou Spicer em uma breve mensagem no Twitter, sem mencionar as razões de sua decisão.
Spicer, de 45 anos, se tornou uma figura notória pelo espírito agressivo com que defendeu as decisões do governo.
Segundo a imprensa, decidiu dar esse passo com o anúncio de que o milionário Anthony Scaramucci, de 53 anos, será o novo chefe de comunicações da Casa Branca.
Trump nomeou o novo diretor numa tentativa de recuperar a imagem pública de sua gestão, mas sua decisão acabou gerando uma nova crise.
Em sua primeira aparição pública, Scaramucci negou que haja tensões internas na Casa Branca.
"Não tenho nenhuma fricção com Sean" e tampouco com o chefe do gabinete, Reince Priebus", esclareceu Scaramucci. "Com Reince, somos um pouco como irmãos, inclusive às vezes jogamos duro como fazem os irmãos", acrescentou.
O posto estava vago desde maio, quando Michael Dubke entregou sua carta de demissão por motivos pessoais.
Desde a saída de Dubke, Spicer assumiu interinamente suas funções.
Scaramucci terá a responsabilidade de recuperar a imagem pública da Casa Banca, abalada por constantes controvérsias e polêmicas vazadas pela imprensa.
Na estrutura da Casa Branca, o gabinete de Scaramucci é que elabora a estratégia de comunicação da presidência, apesar de o porta-voz ser o rosto visível encarregado de aplicar essa linha de contato com a imprensa.
Scaramucci confirmou, nesta sexta, Sarah Huckabee Sanders como nova porta-voz da Casa Branca.
Desde a primeira a primeira coletiva de imprensa - um dia depois da posse de Trump -, Spicer mostrou-se agressivo na defesa das ações presidenciais e da própria figura do presidente.
O entusiasmo o levou a fazer declarações explosivas, como quando disse que o presidente sírio Bashar al Assad é pior que Adolf Hitler, que "não usou gás venenoso contra seus adversários".
As extraordinárias coletivas de Spicer, que diariamente geravam surpresa e incredulidade, levaram uma assessora direta de Trump, Kellyanne Conway, a afirmar que a Casa Branca se concentrava em "fatos alternativos" e que não eram mentiras.
A saída de Spicer ocorre num momento de extrema delicadeza para Trump, que na última semana usou sua metralhadora verbal em todas as direções.
Nos últimos dias, criticou asperamente seu próprio secretário da Justiça, Jeff Sessions, por sua decisão de se manter à margem das investigações sobre a suspeita de ingerência russa nas eleições americanas de 2016.
Também emitiu uma alerta velado contra o procurador especial encarregado dessas investigações, Robert Mueller, caso decida investigar as finanças da família Trump.
Sem saber que enfrentaria um dia de crise na Casa Branca, Trump não começou esta sexta-feira (21) com o pé direito.
Um importante membro da equipe legal de Trump renunciou num momento em que o presidente americano parece querer influenciar a investigação de um promotor especial sobre as ligações de sua equipe com a Rússia.
Mark Corallo, que coordenava a comunicação externa da equipe jurídica de Trump contra a crise, informou à AFP em um email que havia renunciado.
Ele não forneceu qualquer explicação para a renúncia, que ocorre após Trump entrar em território espinhoso durante uma longa entrevista ao New York Times, ao advertir o promotor especial Robert Mueller de não questionar as finanças da sua família.
Nomeado em meados de maio pelo secretário de Justiça, Mueller, um ex-diretor do FBI, lidera a investigação federal sobre se os colaboradores de Trump foram coniventes com as tentativas de Moscou de influenciar a eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos.
Trump rejeita as acusações, mas não conseguiu justificar por que seu filho mais velho e outros aliados-chave se reuniram com agentes russos que prometeram detalhes comprometedores de sua rival Hillary Clinton.
Enquanto a investigação parece dirigir suas atenções às transações financeiras, a imprensa americana indicou que vários aliados de Trump avaliam a possibilidade de perdões presidenciais aos envolvidos e buscam maneiras de desacreditar a investigação de Mueller.
Trump sugeriu diretamente que Mueller pode ter um conflito de interesses.
"Não há NENHUMA base para questionar a integridade de Mueller ou daqueles que trabalham com ele", declarou o ex-procurador-geral Eric Holder no Twitter.
"Trump não pode definir ou limitar a investigação de Mueller. Se tentar isso vai criar problemas constitucionais e de dimensão criminal", acrescentou.
A Casa Branca recusou-se a descartar a possibilidade de que Mueller seja demitido, uma decisão que desencadearia uma tempestade política e, talvez, uma crise constitucional.
Trump já demitiu e diretor do FBI, James Comey, em razão da investigação sobre a Rússia e criticou seu próprio secretário de Justiça.