Um homem de 60 anos da Flórida, motorista do caminhão onde dez imigrantes em situação ilegal morreram no domingo em um estacionamento no Texas, foi denunciado nesta segunda-feira (24) por ter transportado os estrangeiros em situação irregular.
Nove pessoas foram encontradas mortas dentro do caminhão superaquecido que estava estacionado em um supermercado de San Antonio, perto da fronteira com o México.
A décima vítima, um homem adulto, morreu nesta madrugada no hospital, onde 30 pessoas foram internadas com desidratação.
A temperatura no veículo pode ter atingido 65ºC.
James Matthew Bradley Jr. foi denunciado por um procurador federal. Segundo a legislação federal, este crime é passível de prisão perpétua, ou pena de morte.
Ao menos 17 pessoas permanecem internadas em estado grave, incluindo dois menores de idade, em decorrência do calor excessivo e da desidratação.
Os imigrantes foram encontrados na madrugada de domingo em um caminhão sem ar-condicionado no estacionamento de um supermercado Walmart na cidade de San Antonio, perto da fronteira com o México, depois que um dos imigrantes se aproximou do estabelecimento comercial pedindo água.
Um funcionário do supermercado entregou a água e chamou a polícia, que encontrou 38 pessoas confinadas no compartimento de carga do caminhão sem refrigeração. Outro imigrante estava em uma área próxima.
O chanceler da Guatemala, Carlos Raúl Morales, confirmou nesta segunda-feira o falecimento de um guatemalteco entre os dez migrantes que morreram no caminhão.
A chancelaria identificou o guatemalteco morto como Frank Fuentes, de 20 anos, originário da capital, e informou que sua família já foi contactada para iniciar o processo de repatriação do corpo.
Podem ter viajado no caminhão entre 70 e 200 pessoas, pois algumas foram levadas em seis caminhonetes pretas que esperavam pelo veículo maior, segundo depoimentos que formam a denúncia.
O documento descreve uma "viagem de terror", com pessoas que tinham problemas para respirar enquanto outras desmaiavam.
"As pessoas começaram a bater nas paredes do caminhão para chamar a atenção do motorista. O motorista nunca parou", contou um dos sobreviventes, identificado apenas como J.M.M-J. "Havia um buraco no caminhão e nos amontoávamos para respirar por ali".
Não se sabe por quanto tempo eles ficaram no veículo.
J.M.M-J relatou que é mexicano e parte de um grupo de 29 pessoas levadas de maneira irregular para os Estados Unidos. Esse grupo se uniu a outras 70 pessoas que já estavam no caminhão.
As autoridades americanas ainda não informaram sobre as nacionalidades e nomes dos mortos, pois esperam primeiro notificar suas famílias.
De acordo com declarações das vítimas, a pessoa que os levou como contrabando disse que "gente vinculada aos Zetas" (cartel de droga) estava oferecendo proteção para a viagem pelo México e pela fronteira americana, e que quando chegassem aos Estados Unidos pagariam 5.500 dólares.
O motorista alegou que não sabia que estava transportando pessoas até parar no Walmart para usar o banheiro. Ele ouviu ruídos e notou que o veículo balançava.
Bradley explicou que ele levou o caminhão de Iowa para o Texas por ordens de seu chefe e que tentou conseguir ajuda quando encontrou os imigrantes. A denúncia, contudo, afirma que ele não ligou para o 911.
O secretário americano de Segurança Interior, John Kelly, lamentou as mortes "sem sentido" dos imigrantes.
"Esta tragédia demonstra a brutalidade dessa rede da qual falei outras vezes. Esses traficantes de pessoas não têm qualquer interesse na vida alheira, só pensam no seu próprio lucro", disse.
Kelly esteve duas vezes no México para tratar o tema da imigração irregular, o contrabando de pessoas e o crescente comércio de drogas na fronteira.