O sul da Ásia, que abriga um quinto da população mundial, poderia experimentar um aumento do calor úmido a níveis insuportáveis antes do final do século se nada for feito para deter o aquecimento global, disseram pesquisadores nesta quarta-feira (2).
O estudo, publicado na revista Science Advances, alertou sobre "ondas de calor no verão com níveis de calor e umidade que excedem as condições em que os humanos podem sobreviver sem proteção".
A pesquisa se baseia em dois modelos climáticos. Um é um cenário de continuidade no qual pouco é feito para conter as mudanças climáticas, e o segundo visa limitar o aumento da temperatura bem abaixo de dois graus Celsius, como prometido em 2015 por mais de 195 nações no Acordo de Paris sobre o clima.
O estudo é o primeiro de seu tipo a olhar não apenas para as temperaturas, mas para a previsão de "temperatura de bulbo úmido", que combina temperatura, umidade e a capacidade do corpo humano de se resfriar em resposta.
O limite de sobrevivência é considerado de 35 graus Celsius.
Em um cenário de continuidade, "a projeção é que as temperaturas de bulbo úmido se aproximem do limite de sobrevivência na maior parte do sul da Ásia e o excedam em alguns locais, até o final do século", disse o estudo.
Cerca de 30% da população da região ficaria exposta a essas temperaturas prejudiciais, em comparação com 0% no presente, disse o estudo.
As regiões agrícolas densamente povoadas do sul da Ásia poderiam ser as mais afetadas, porque os trabalhadores estão expostos ao calor com poucas oportunidades de fugir para ambientes com ar condicionado.
"As ondas de calor mortais poderiam começar dentro de poucas décadas a atingir regiões da Índia, Paquistão e Bangladesh, incluindo as férteis bacias dos rios Indo e Ganges, que produzem grande parte do abastecimento de alimentos da região", afirmou o estudo.
A Índia é o lar de 1,25 bilhão de pessoas, enquanto outras 350 milhões vivem em Bangladesh e no Paquistão.
Em 2015, a quinta onda de calor mais mortal da história moderna atingiu grandes partes da Índia e do Paquistão, matando cerca de 3.500 pessoas.
Mas os pesquisadores disseram que seus modelos também dão motivo para a esperança. Sob o cenário em que as medidas para limitar o aquecimento são tomadas nas próximas décadas, a população exposta a temperaturas de bulbo úmido prejudiciais aumentaria de zero para apenas 2%.
As temperaturas ainda atingiriam níveis perigosos (acima de 31º C), mas não estariam tão perto do limite fatal.
"Há valor na mitigação, no que diz respeito à saúde pública e à redução das ondas de calor", disse o autor principal, Elfatih Eltahirhe, professor de engenharia ambiental do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
"Com a mitigação, esperamos ser capazes de evitar essas projeções graves. Isso não é algo inevitável", acrescentou.