Proibir as importações de petróleo para Pyongyang seria desastroso para os norte-coreanos e, talvez, fatal para o regime, indicam especialistas, ressaltando, porém, que convencer Pequim a participar desse plano ainda é um desafio.
A commodity aparece em todas as discussões sobre um novo endurecimento das sanções do Conselho de Segurança da ONU contra Pyongyang, após seu sexto teste nuclear, realizado no domingo (3).
A Coreia do Norte tem poucas reservas de petróleo e depende muito das importações. De longe seu principal parceiro comercial, a China representa 90% de seu comércio exterior.
Não se sabe ao certo, contudo, qual o valor das exportações chinesas de petróleo, já que a aduana do país não publica cifras oficiais a esse respeito desde 2014.
A Agência de Informação sobre a Energia (EIA) dos Estados Unidos considera que Pyonyang importa cerca de 10 mil barris de petróleo diários, especialmente da China, para alimentar a única refinaria do país - a Fábrica Química de Ponghwa.
Com o barril a cerca de 50 dólares, isso representa por volta de 180 milhões de dólares ao ano.
Em 2016, o regime norte-coreano ainda importou da China produtos petrolíferos refinados por 115 milhões de dólares, incluindo gasolina e combustível para aviões, segundo o Centro Internacional de Comércio (ITC), organismo ligado à ONU e à Organização Mundial de Comércio (OMC).
No mesmo período, as importações de produtos refinados da Rússia são estimadas em cerca de 1,7 milhão de dólares.
Proibir as importações seria desastroso para a população, considera um informe do Instituto Nautilus, um centro de estudos americano.
"As pessoas terão que ficar a pé e empurrar os ônibus", escreveram Peter Hayes e David von Hippel no relatório.
"Vai haver menos luz nas casas por falta de querosene", completam.
Para esses pesquisadores, a proibição agravará o desmatamento, já que o país vai precisar cortar árvores para produzir carvão de madeira. "O que provocará mais erosão, inundações e fome", ressaltam.
Em função da Doutrina "Songun", que prioriza o Exército, o regime restringiria imediatamente as quantidades de petróleo destinadas aos civis.
Por consequência, uma proibição das importações teria "impacto imediato nulo, ou limitado", no Exército norte-coreano e em seus programas balístico e nuclear.
O Exército, que usa um terço do petróleo importado, tem reservas que lhe permitiriam aguentar pelo menos "um ano com um consumo clássico em tempos de paz" e poderia lutar por até um mês antes de faltar combustível, segundo os pesquisadores.
A China teria de ser convencida a que o petróleo fosse incluído no novo pacote de sanções, já considerado "inútil e ineficaz" pelo presidente russo, Vladimir Putin.
"Se o petróleo for cortado, isso pode fazer o regime cair", analisa o pesquisador Jean-Vincent Brisset, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.
"Mas a China tem um medo enorme de uma reunificação da Coreia", que poderia provocar um intenso fluxo de refugiados e a presença de tropas americanas em suas fronteiras, acrescenta.
Na opinião do ex-vice-ministro sul-coreano das Relações Exteriores Kim Sung-han, "a queda do regime significaria que a China perdeu todo interesse na existência da Coreia do Norte como Estado-tampão".
O único modo de convencer Pequim a aceitar aplicar um embargo sobre o petróleo seria ameaçar seus próprios interesses, principalmente, mediante sanções secundárias americanas contra as empresas chinesas que trabalham com a Coreia do Norte, completa.
"A China só vai considerar (o embargo), se ficar encurralada pelos Estados Unidos", considera.
Isso provocaria a revolta de Pyonyang, segundo Wang Dong, da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Pequim. E abriria provavelmente "a caixa de Pandora".
"A Coreia do Norte pode criar uma resistência muito forte, se a China fechar a toneira", afirma Dong, advertindo que "a situação na península pioraria muito".