Curdistão iraquiano vota em massa pela independência, como era esperado

Pouco mais de 92% dos curdos iraquianos votaram a favor da independência no polêmico referendo ocorrido na segunda-feira
AFP
Publicado em 27/09/2017 às 14:56
Pouco mais de 92% dos curdos iraquianos votaram a favor da independência no polêmico referendo ocorrido na segunda-feira. Foto: Foto: AFP


Pouco mais de 92% dos curdos iraquianos votaram a favor da independência no polêmico referendo ocorrido na segunda-feira, apesar da oposição do governo central de Bagdá e de inúmeras capitais internacionais.

Os resultados da consulta foram anunciados nesta quarta-feira, horas depois de o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, colocar a anulação do referendo como condição para qualquer negociação.

Bagdá não reagiu imediatamente ao anúncio oficial do resultado, que não implicará na declaração de independência da região, indicaram as autoridades curdas.

Os países vizinhos ao Iraque, onde vivem importantes minorias curdas, também ameaçaram impor sanções contra a região autônoma. Se essas ameaças forem executadas, asfixiariam totalmente a entidade curda.

"O 'sim' obteve 92,73% e o 'não' 7,27% de um total de 3.305.925 eleitores", afirmou a comissão eleitoral, que detalhou que a participação foi de 72,16%.

Anteriormente, o primeiro-ministro iraquiano havia declarado aos deputados que o referendo tinha que ser anulado e que deveriam empreender um diálogo "com base na Constituição". "Jamais falaremos do resultado do referendo", advertiu.

Na sessão parlamentar, os deputados votaram a favor do fechamento dos postos fronteiriços que se encontram fora da autoridade do Estado, dos quais há quatro nas fronteiras da região do Curdistão com a Turquia e o Irã.

"As mercadorias que poderiam transitar por ali" serão consideradas "como mercadorias de contrabando", via-se em um comunicado no qual explicavam as votações do Parlamento.

'Manter a unidade'

Os deputados pediram ao primeiro-ministro, como chefe do Exército, que "tomasse todas as medidas necessárias para manter a unidade do Iraque e proteger os cidadãos", reiterando a exigência de enviar forças de segurança para as áreas em disputa, incluindo Kirkuk.

As zonas disputadas são a província multiétnica de Kirkuk (norte do Iraque), rica em petróleo, e diversos setores das províncias de Nínive (norte), Diyala e Saladino (norte de Bagdá).

A maior parte dessas zonas foi conquistada em 2014 pelos peshmergas (combatentes curdos) aproveitando o caos após a ofensiva do grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Além disso, Al-Abadi pediu que devolvessem o controle de dois aeroporto curdos de Erbil e Sulaymaniyah para Bagdá.

Caso neguem, todos os voos internacionais com saída e destino no Curdistão serão proibidos a partir de sexta-feira.

Diante disso, o ministro curdo dos Transportes, Mawloud Bawah Mourad, lembrou que os dois aeroportos foram construídos com o dinheiro da região autônoma.

'Um destino melhor'

As exigências que Bagdá impôs nesta quarta mostram o repúdio categórico do governo central a aceitar a votação organizada por Massoud Barzani.

"Ao invés de sanções, que venham as negociações para alcançar um destino melhor para todos", defendeu na véspera o presidente curdo.

Além disso, assegurou que o referendo não tinha a intenção de delimitar a fronteira entre o Curdistão e o Iraque, ou tampouco impô-la.

No domingo, o poder central iraquiano pediu aos países estrangeiros que tratem unicamente com ele sobre qualquer transação petroleira, posto que esta é a principal fonte de renda do Curdistão iraquiano.

No exterior o referendo foi muito criticado, sobretudo por Turquia, Síria e Irã, três países vizinhos que têm as próprias minorias curdas.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu sobre o risco de uma "guerra étnica e religiosa" se o Curdistão iraquiano desse continuidade ao seu projeto de independência.

A Síria, por sua vez, denunciou um referendo "totalmente inaceitável" e o Irã disse temer o "caos" na região.

Os Estados Unidos disseram estar "profundamente decepcionados" e temerosos de que esta ação aumente a instabilidade, enquanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que formalizem os seus "compromissos".

Seguindo em outra direção, a Rússia, que tem importantes interesses na região, disse considerar "com respeito as aspirações nacionais curdas".

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