A Catalunha "é um assunto nacional da Espanha", resumiu nesta sexta-feira (20) o presidente do governo, Mariano Rajoy, ao fim da cúpula em Bruxelas, onde optou pelo silêncio, a fim de evitar que a crise política aberta pelo separatismo catalão torne-se uma questão europeia.
"Este assunto não figurava na ordem do dia, e eu estou de acordo (...) porque esse é um assunto nacional, é um assunto da Espanha", respondeu Rajoy em coletiva de imprensa à pergunta de por que não aproveitou a cúpula para resolver a incerteza gerada entre seus sócios europeus.
Desde o início do desafio secessionista na Catalunha, Madri tentou evitar que a crise política extrapolasse suas fronteiras, apesar dos reiterados pedidos dos líderes separatistas catalães por uma mediação internacional para o problema, que consideram uma questão da Europa.
As instituições e líderes europeus demostraram, desde o início, seu apoio à posição de Madri, argumentando que é um "assunto interno" na Espanha, embora, como reconheceu nessa quinta-feira (19) o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a situação da Espanha seja preocupante.
A resposta do governo espanhol para impedir a celebração do referendo em 1 de outubro passado, com ataques policiais contra a população e a apreensão de urnas, abriu uma brecha na posição europeia, com vários líderes condenando a violência.
Contudo, em sua chegada à cúpula, a Espanha recebeu o firme apoio dos países europeus, começando por França e Alemanha, e o compromisso do presidente do Conselho Europeu de que "não há espaço para uma intervenção da UE" nesta crise política em um país membro do bloco.
O presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu, na chegada a Bruxelas, que a cúpula seria marcada por uma "mensagem de unidade" em torno da Espanha, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, uma líder próxima a Rajoy, defendeu "soluções baseadas na Constituição" espanhola, como alega Madri.
A voz dissonante foi a do primeiro-ministro belga, Charles Michel, que pediu, na quinta, "uma desescalada" na Espanha e o diálogo para encontrar uma "solução política".
Apesar de todos os sinais positivos no começo da reunião, o mandatário espanhol não aproveitou a onda favorável para reforçar publicamente o apoio da UE, horas antes de anunciar medidas concretas para intervir na autonomia da Catalunha.
"Quem faz a ordem do dia é o presidente do Conselho Europeu", justificou-se Rajoy. Contudo, uma fonte europeia garantiu antes da cúpula que Tusk colocaria o tema na pauta, caso fosse solicitado pelo líder espanhol.
A questão da Catalunha tampouco foi abordada em uma reunião bilateral com Macron, dedicada aos trabalhadores deslocados, segundo uma fonte diplomática, ou no jantar a portas fechadas dos líderes, apesar do questionamento de Merkel.
Esse silêncio foi confirmado por diferentes fontes. "Durante o jantar, Merkel perguntou a Rajoy se queria falar sobre a Catalunha", mas ele disse "não", contou uma fonte diplomática que pediu anonimato.
Silêncio na saída e na chegada, silêncio durante o jantar, silêncio no encontro bilateral e respostas evasivas na coletiva de imprensa. Como tinha previsto a fonte diplomática, Rajoy não queria tratar da crise neste nível mais elevado, e assim o fez.