Chavismo se agita na Venezuela após captura de dois dirigentes

O ex-ministro do Petróleo Eulogio del Pino e o titular em fim de mandato da petroleira estatal Pdvsa, Nelson Martínez, foram presos acusados de corrupção
AFP
Publicado em 30/11/2017 às 21:12
O ex-ministro do Petróleo Eulogio del Pino e o titular em fim de mandato da petroleira estatal Pdvsa, Nelson Martínez, foram presos acusados de corrupção Foto: Foto: FEDERICO PARRA / AFP


O governo venezuelano se agitou nesta quinta-feira (30) com a detenção do poderoso ex-ministro do Petróleo Eulogio del Pino e do titular em fim de mandato da petroleira estatal PDVSA, Nelson Martínez, acusados de corrupção.

Foram presos por militares durante a madrugada em suas casas, quatro dias depois de o presidente Nicolás Maduro os destituir sem mencionar os motivos.

Em um vídeo que pediu para difundir caso fosse detido, Del Pino considerou as acusações como um "ataque injustificado" e afirmou que Maduro tinha lhe pedido para ignorar os rumores sobre ações judiciais contra ele.

"Me disse que não caísse na guerra psicológica de quem traiu a revolução e destruiu a Pdvsa", afirmou.

Segundo vídeos divulgados pelo governo, um militar com o rosto coberto por uma touca ninja e armado com um fuzil bateu na porta do apartamento do ex-ministro Del Pino e o algemou.

"Tem direito a um advogado (...), a uma ligação", declarou o agente, diante do qual o ex-funcionário, usando short e a camisa da seleção venezuelana, permaneceu sem expressão.

Trata-se de um dos funcionários de mais alto escalão detido em uma ofensiva contra a suposta máfia na Pdvsa, à qual o governo atribui a piora financeira e operacional da empresa, que aporta 96% das divisas do país.

Del Pino, que ocupou a presidência da Pdvsa até agosto, quando Martínez assumiu, é acusado de "alteração intencional das cifras de produção de petróleo", assinalou à imprensa o procurador-geral, Tarek  William Saab, ao anunciar as capturas.

Também é acusado de "dano patrimonial" de 500 milhões de dólares, acrescentou Saab.

Por isso, enfrenta acusações de peculato doloso, acordo para cometer crimes, incumprimento ao regime de segurança da nação, associação e uso indevido de sistema de informação.

Enquanto isso, Nelson Martínez é acusado pela assinatura, em condições irregulares, de um contrato de refinanciamento da dívida da Citgo - filial da Pdvsa nos Estados Unidos - por quatro bilhões de dólares.

Por esse caso já foram detidos o presidente e cinco vice-presidentes da subsidiária. De acordo com o governo, também havia uma propina de 50 milhões de dólares.

Segundo Saab, os detidos "disseram que (Martínez) estava ciente das negociações" que "comprometiam" a propriedade da Citgo.

"Baleias e tubarões" 

As prisões fazem parte de uma "limpeza" contra a corrupção, anunciada por Maduro na terça-feira, para ter uma Pdvsa "sem corrupção, sem sanguessugas, nem máfias".

As ações são tomadas quando a Venezuela e a Pdvsa foram declaradas em moratória por um grupo de detentores de títulos e agências de qualificação por atrasos no pagamento de capital e juros sobre títulos de dívida.

Os títulos da empresa representam 30% de uma dívida externa estimada em 150 bilhões de dólares, que Maduro quer renegociar.

Além dos problemas financeiros, a Pdvsa enfrenta uma piora operacional: sua produção caiu a 1,9 milhão de barris diários, em comparação aos 3,2 milhões de barris por dia de 2008.

O procurador assinalou que as capturas - executadas pela Direção de Contrainteligência Militar (Digecim) - querem o "desmantelamento do cartel que vem atingindo a indústria petroleira".

E diante dos questionamentos de opositores por recentemente terem detido os "peixes gordos", afirmou que "há 16 baleias e tubarões", e virão mais, anunciou.

Se referia a 16 pessoas que a Procuradoria ordenou deter relacionadas com os casos de Del Pino e Martínez, algumas das quais, disse Saab, "estão fora do país e pretendemos que sejam entregues à Justiça venezuelana".

Guerra de poder

Tanto Del Pino como Martínez se alternaram em diferentes épocas nos cargos de ministro do Petróleo e presidente da Pdvsa, e o primeiro foi o braço direito de Rafael Ramírez, titular da petroleira durante uma década e um dos mais prominentes líderes do chavismo.

Ramírez, a quem a oposição acusa de ser o principal responsável pela corrupção e deterioração da indústria, está no centro de uma polêmicas por versões ainda não confirmadas de que Maduro o destituiu como embaixador da Venezuela na ONU.

Os ataques contra ele também vêm das entranhas do governo. A dirigente Iris Varela rejeitou as críticas veladas de Ramírez pela crise econômica, sendo respaldada por Maduro.

"Nenhum intruso pode vir com histórias para mim", se defendeu Ramírez no Twitter, recordando que fazia parte do círculo íntimo do presidente Hugo Chávez, falecido em 2013.

Analistas como Axel Capriles consideram que mais que uma luta contra a corrupção, a "limpeza" na Pdvsa obedece a uma disputa de poderes no chavismo, a um ano das eleições presidenciais.

"É um confronto entre os beneficiários da corrupção, é uma guerra interna entre máfias revolucionárias para definir quem fica com o roubo", afirmou Capriles no Twitter.

TAGS
maduro venezuela chavismo
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory