O colapso do 'califado'do Estado Islâmico

Em 2017, o grupo extremista Estado Islâmico sofreu vários ataques, perdendo o controle de vários territórios que antes estavam sobre seu poder
AFP
Publicado em 19/12/2017 às 14:42
Em 2017, o grupo extremista Estado Islâmico sofreu vários ataques, perdendo o controle de vários territórios que antes estavam sobre seu poder Foto: Foto: AFP


O ano de 2017 foi para o Estado Islâmico (EI) o do colapso de seu "califado", após intensos combates na Síria e no Iraque, países que encaram enormes desafios com cidades em ruínas e uma persistente ameaça extremista islâmica.

Três anos após seu meteórico avanço e conquista de um território tão vasto como a Itália, o grupo extremista ultrarradical foi derrotado no Iraque e está encurralado na vizinha Síria.

Alvos de um dilúvio de bombas dos Estados Unidos e da Rússia, os jihadistas perderam em 2017 suas "capitais" Mossul, no Iraque, e Raqa, na Síria.

Em dezembro, o primeiro-ministro iraquiano Haider al-Abadi anunciou "o fim da guerra" contra o EI, afirmando que, pela primeira vez em quatro anos, a organização já não controlava nenhum território significativo no Iraque.

O regime de Damasco deve fazer um anúncio semelhante em breve. Os jihadistas atualmente controlam apenas algumas localidades no leste da Síria, no deserto no centro do país e dois bairros periféricos de Damasco.

Os extremistas do EI foram os responsáveis por várias atrocidades em que milhares de pessoas morreram no Iraque e na Síria. Também reivindicaram uma série de ataques sangrentos em várias partes do mundo, como em Paris, Las Vegas ou Istambul.

'Em alerta permanente' 

No Iraque, as potências ocidentais deram apoio constante a Abadi, que sai reforçado depois de três anos de guerra.

A ofensiva contra o EI, apoiada por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, permitiu, além do objetivo militar, que as tropas iraquianas recuperassem sua dignidade depois de terem fugido dos jihadistas em Mossul em 2014. Uma derrota que traumatizou o país.

Mas, embora o EI tenha perdido o controle territorial no Iraque, seus combatentes continuam em atividade, agora escondidos nos cânions do deserto ocidental de Al Anbar.

"Do ponto de vista militar, o EI foi derrotado, mas o grupo ainda é uma organização terrorista", adverte Ahmed al-Asadi, comandante das unidades paramilitares Hashd al-Shabi, uma força aliada de Bagdá e criada em 2014 para conter a avanço dos jihadistas.

"Temos de permanecer em alerta permanente", disse ele. 

O futuro desta força, controlada por poderosas milícias xiitas, algumas apoiadas por Teerã, representará um grande desafio para o Iraque.

Além disso, o governo central, dominado pelos xiitas, deverá dedicar-se a gigantesca tarefa de reconstrução das cidades xiitas devastadas pela guerra. Mossul, segunda maior cidade do país, está em ruínas, assim como Ramadi (centro), Sinjar (norte) e Fallujah (centro).

O fracasso da reconstrução poderia reavivar as tensões sectárias e oferecer aos combatentes sunitas do EI uma oportunidade para retornar.

 Assad reforçado  

Na Síria, a ameaça jihadista também persiste, em um país despedaçado por uma guerra civil desde 2011, que deixou mais de 340 mil mortos.

O apoio de Moscou permitiu que o regime de Bashar al-Assad reconquistasse nos últimos meses quase metade do território sírio, multiplicando as vitórias contra os rebeldes e os jihadistas.

Damasco nunca escondeu sua intenção de reconquistar todo o país e muitos especialistas temem confrontos com a minoria curda, que aproveitou o conflito para estabelecer a autonomia em seus territórios no norte do país.

Na segunda-feira, Bashar al-Assad chamou de "traidores" os membros das milícias curdas apoiadas pelos Estados Unidos.

Para Aymen al-Tamimi, especialista em movimentos jihadistas, o EI poderia permanecer na Síria e no Iraque como uma "força insurrecional".

"Um problema sério seria o estabelecimento de um novo vácuo de segurança, por exemplo, se o regime e as Forças Democráticas Curdas (coalizão curdo-árabe) lutarem entre si", ressalta.

Em várias regiões da Síria, o conflito, no entanto, declinou em intensidade, graças ao estabelecimento de "zonas de distensão".

Mas a existência desses acordos não impedem Damasco de bombardear regularmente estas zonas, provocando dezenas de mortos entre os civis.

Tanto na Síria como no Iraque, as autoridades enfrentam uma crise humanitária colossal. Mais da metade dos 22 milhões de sírios  fugiram de suas casas, enquanto três milhões de iraquianos seguem deslocados.

Na Síria, "algumas áreas voltaram a ser seguras este ano, mas há combates em outras. Por esta razão, ainda há importantes movimentos de deslocamento" da população, aponta Ingy Sedky, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

No Iraque, onze milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária urgente.

Mas além da reconstrução, a justiça pós-conflito constitui um desafio maior. "Milhares de pessoas continuam em detenção", segundo o diretor regional adjunto para o Oriente Médio do CICV, Patrick Hamilton.

"A maneira como são tratados e a justiça à qual serão submetidas são cruciais para estabelecer uma paz duradoura, se não, apenas alimentará um novo ciclo de violência", adverte.

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