Os Estados Unidos advertiram, nesta quarta-feira (11), que "os mísseis chegarão" à Síria em resposta a supostos ataques químicos e apesar do risco de um choque frontal com a Rússia, aliada de Damasco.
"A Rússia promete derrubar todos os mísseis disparados contra a Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles chegarão, lindos, novos e 'inteligentes'! Não deveriam ser sócios de um Animal Assassino com Gás que mata seu povo e aprecia", tuitou Trump logo cedo nesta quarta.
Damasco, que acusa Washington de apoiar "terroristas" na Síria, classificou as ameaças de Trump de "escalada perigosa".
"Não estamos surpresos com essa escalada perigosa de um regime como os Estados Unidos, que patrocinou e ainda patrocina o terrorismo na Síria", declarou uma fonte do Ministério sírio das Relações Exteriores, citada pela agência de notícias Sana.
A resposta russa também não demorou. Pela conta da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores no Facebook, Maria Zakharova, Moscou insinuou que Washington buscaria "apagar os vestígios das provocações" que os ocidentais denunciam como um ataque químico no reduto rebelde de Duma.
"A ideia seria apagar rapidamente os vestígios das provocações, mediante o lançamento de mísseis 'inteligentes' e, assim, os investigadores não teriam nada a achar como provas", sugeriu a porta-voz.
Zakharova acrescentou que "os mísseis 'inteligentes' devem voar na direção dos terroristas, e não do governo legítimo sírio, que luta há vários anos contra o terrorismo internacional em seu território".
O porta-voz do Kremlin já havia advertido contra qualquer ação na Síria que possa "desestabilizar a já frágil situação da região", destacando que o cenário é "muito tenso".
A Turquia pediu, por sua vez, que Estados Unidos e Rússia parem sua "briga de rua" pela Síria.
"Um diz 'Eu tenho os melhores mísseis'; outro diz 'não, os meus são melhores!' (...) É uma briga de rua. E quem paga o preço? (...) Os civis", declarou o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, em um discurso em Istambul.
Trump - que cancelou uma visita à América Latina no fim de semana para "supervisionar a resposta americana à Síria" - deixou claro que pretende que o regime de Bashar al-Assad e, possivelmente, seus aliados Moscou e Teerã, paguem caro pelo último suposto ataque com gás venenoso.
Segundo socorristas, no sábado, morreram mais de 40 pessoas no território rebelde de Duma, perto de Damasco, atingidas por um ataque químico.
Estados Unidos, Reino Unido e França afirmaram que o ataque químico tem todas as características de uma ofensiva ordenada por Damasco. O governo Assad já foi acusado pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) de lançar outros ataques com gases tóxicos.
Em meio a essa escalada, Moscou alertou para as "consequências graves", em caso de uma ação militar das potências ocidentais.
O destróier lança-mísseis "USS Donald Cook" partiu na segunda-feira do porto de Lanarca, no Chipre, onde fazia uma escala, e se encontra em uma zona de onde poderia - facilmente - atacar a Síria.
Ontem à tarde, a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) emitiu uma mensagem, advertindo sobre "possíveis ataques aéreos na Síria (...) dentro das próximas 72 horas".
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o Exército sírio pôs suas forças "em estado de alerta" para os próximos três dias nos aeroportos e bases militares desse país arrasado pela guerra desde 2011.
As tropas se preparam com um rápido deslocamento, especialmente em Damasco, mas também na província de Homs (centro) e de Deir Ezzor (leste), de acordo com o diretor dessa ONG, Rami Abdel Rahman.
Esta medida é, em geral, adotada "em reação às ameaças externas", completou.
Em abril de 2017, Trump bombardeou uma base militar síria, em resposta a um ataque com gás sarin em Khan Sheilkhun. Os EUA acusam o governo Assad pela ofensiva que matou 80 civis.
O governo sírio sempre negou seu envolvimento nos ataques químicos pelos quais vem sendo responsabilizado ao longo dessa guerra que devasta o país desde 2011.
Diante da indignação da comunidade internacional, o Conselho de Segurança da ONU voltou a fracassar, na terça-feira, em sua tentativa de dar uma resposta ao recentes ataques na Síria, depois que Washington e Moscou se opuseram mutuamente às suas respectivas moções para realizar uma investigação internacional.
A embaixadora de Washington na Casa, Nikki Haley, deixou claro que um fracasso no Conselho de Segurança não impedirá a ação dos Estados Unidos e de seus aliados.
"A Rússia arranhou a credibilidade do Conselho", afirmou.
"Qualquer coisa significativa que proponhamos sobre Síria, a Rússia veta. É uma farsa", acrescentou, considerando que a proposta russa buscava apenas "proteger Assad".
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, disse que o veto obedecia à vontade de Moscou de "não permitir que o Conselho de Segurança seja conduzido para aventuras".
Com o apoio de Londres e de Paris, Washington disse estar pronto para agir com, ou sem, o apoio das Nações Unidas. China e Rússia deixaram clara sua oposição a um eventual ataque ocidental.
O embaixador russo no Líbano, Alexander Zasypkin, garantiu que seu país está determinado a "abater" mísseis americanos em caso de ataques contra a Síria.
Em entrevista na terça de manhã à emissora de televisão do Hezbollah libanês, Al-Manar, o embaixador russo declarou que, "em caso de ataque americano... os mísseis serão abatidos, assim como as fontes de onde eles foram lançados".
"Nós prevenimos, há algum tempo, contra essas provocações envolvendo as armas químicas e os preparativos para ataques militares" na Síria, completou Zasypkin.