O ex-presidente romeno Ion Iliescu foi acusado de crimes contra a humanidade pelos sangrentos dias que se seguiram ao levante anticomunista de dezembro de 1989, anunciou nesta terça-feira (17), em Bucareste, a promotoria do Tribunal Superior de Cassação.
Estas acusações se concentram nas atitudes tomadas após a queda do ditador comunista Nicolae Ceaucescu e de sua mulher, Elena, julgados e executados em 25 de dezembro de 1989.
Para os investigadores, essas medidas, que naquele momento se somavam à "psicose terrorista que havia chegado ao ápice entre militares e civis armados", provocaram muitas situações de "fogo amigo".
Ion Iliescu "aceitou e ratificou as medidas militares", algumas delas para manipular, segundo um comunicado dos fiscais.
No total, 1.104 pessoas morreram na Romênia durante os eventos de dezembro de 1989: 162 antes da queda de Ceaucescu, que ordenou a repressão a manifestações, e 942 nos dias posteriores. O balanço, 28 anos depois, continua a ser questionado.
Iliescu governou a Romênia de 1989 a 1996 e de 2000 a 2004.
O político de 88 anos afirma, por sua parte, que "mantém a cabeça erguida diante do julgamento da História".
"Uma revolta popular criou um vazio de poder. Pessoas das mais diversas áreas da sociedade tentaram dar sentido à mudança (...). Agora, são acusados de se atreverem a isso", escreveu na semana passada em seu blog.
Este anúncio representa uma nova etapa no processo, arquivado em 2015 e reaberto em 2016 por decisão do Tribunal Superior de Cassação.
Dois altos funcionários do Exército também foram acusados, acrescentou a promotoria.
Yosif Rus, ex-comandante da aviação militar, é acusado pela morte de 48 pessoas no aeroporto de Otopoeni em 23 de dezembro de 1989, quando militares do Ministério da Defesa e Segurança (polícia da política secreta) dispararam uns contra os outros durante a confusão.
No início de abril, os promotores solicitaram sinal verde ao atual presidente romeno, Klaus Iohannis, para processar Iliescu e o ex-primeiro-ministro Petre Roman em outra seção do "Dossiê da Revolução". Iohannis deu sua aprovação na semana passada.