A tensão crescia na França nesta quarta-feira (18) com o bloqueio da prestigiosa universidade parisiense de Sciences Po em protesto pela reforma na educação promovida pelo presidente Emmanuel Macron, enquanto a greve no setor ferroviário continua paralisando uma parte da rede em todo país.
Cerca de 70 estudantes ocupam desde ontem à noite o Instituto de Ciência Política de Paris para se manifestar contra a aplicação de critérios de seleção para o ingresso nas universidades públicas na França.
"Os estudantes da Sciences Po contra a ditadura macronista", dizia um dos cartazes pendurados na fachada do histórico estabelecimento, pelo qual passaram várias gerações de políticos franceses, incluindo o próprio Macron.
O acesso principal ao edifício estava fechado nesta quarta, uma decisão tomada pela direção do instituto por "motivos de segurança".
"Há cansaço político geral", disse à AFP Lounes, estudante do Mestrado. "Temos de mostrar coesão diante da seleção", defendeu.
"É uma vergonha!", denunciou Paul, estudante do primeiro ano. "É uma minoria que está bloqueando. Muita gente quer ir para a aula. Tem uma minoria silenciosa que não quer isso", completou.
O reitor da Universidade de Rouen, no norte da França, também anunciou que seu campus principal permanecerá fechado até segunda-feira, depois que os estudantes tomaram vários espaços do estabelecimento.
Desde março, os estudantes franceses estão em pé de guerra contra a implementação de novos critérios de seleção para o ingresso nas universidades públicas, considerados como uma violação do princípio de "educação gratuita para todos".
A mobilização estudantil coincide com a greve de trabalhadores da Empresa Nacional de Ferrovias (SNCF, na sigla em francês), em sua quarta jornada de paralisações em nível nacional contra uma reforma do setor lançada por Macron.
Em uma queda de braço com o governo desde abril, os ferroviários convocam para uma mobilização "de alto nível" contra o projeto de lei do Executivo que prevê, entre outros pontos, o fim para novos funcionários do estatuto especial dos trabalhadores da SNCF e a abertura do setor para a concorrência.
Apesar do enfraquecimento do protesto, em comparação com a semana passada, milhares de usuários continuavam sendo afetados. Apenas um em cada três trens de alta velocidade (TGV) e um em cada quatro trens intermunicipais circulavam hoje.
Os sindicatos convocaram para quinta-feira uma jornada de manifestações nacionais de diversas categorias para tentar consolidar uma frente unida contra a agenda de reformas de Emmanuel Macron, que chegou ao poder há menos de um ano.
Espera-se que ferroviários, estudantes e outras categorias retomem as ruas, após as últimas manifestações de 22 de março, que mobilizaram, segundo a Polícia, 300 mil pessoas.
Somando-se ao protesto, a principal organização sindical do setor energético na França anunciou nesta quarta greves intermitentes até o final de junho com "cortes dirigidos" a "empresas, onde se demitem funcionários", ou que "criminalizem a ação dos sindicatos".
A categoria pede a criação de um novo serviço público de gás e energia e busca uma "convergência de lutas", explicou à AFP o secretário-general do sindicato CGT, Sébastien Menesplier.
Macron, que no domingo disse ouvir toda revolta dos manifestantes, advertiu que não cederá em suas reformas.
Hoje pela manhã, durante uma visita ao leste da França, ele foi vaiado por ferroviários e protagonizou um acalorado debate com um sindicalista que o acusou de corroer os direitos dos trabalhadores.
"Não vamos deixar que a reforma passe", gritou um grupo de manifestantes.
"Acredito profundamente na reforma que empreendemos. Eu lhes peço que aceitem uma mudança", rebateu Macron.
De acordo com uma pesquisa Ifop-Fiducial difundida hoje, 60% dos franceses estão "insatisfeitos" com a ação de Macron, que completa, mês que vem, um ano de governo.