Teerã e Moscou rejeitaram categoricamente nesta quarta-feira (25) qualquer novo acordo sobre o programa nuclear iraniano, em uma resposta às declarações neste sentido feitas na terça-feira (24) pelos presidentes dos Estados Unidos e da França.
Resultado de ásperas negociações diplomáticas entre o Irã e o Grupo 5+1 (Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) em julho de 2015, o acordo de Viena parece mais fragilizado do que nunca.
O presidente americano Donald Trump e o francês Emmanuel Macron foram evasivos sobre os contornos, a abrangência e as consequências exatas das novas negociações que defenderam.
"Desejamos trabalhar sobre um novo acordo com o Irã", afirmou Macron, evocando a possibilidade de seu colega americano cumprir sua promessa de campanha de se desfazer do texto visando impedir o Irã de se dotar da bomba atômica.
"Junto com um líder de um país europeu, eles afirmam: 'Nós queremos decidir sobre um acordo alcançado entre sete partes'. Para que? Com que direito?", questionou nesta quarta-feira o presidente iraniano Hassan Rohani em um discurso em Tabriz, norte do Irã.
"Com este acordo, fizemos cair as acusações e provamos que os Estados Unidos e Israel mentem sobre o Irã há décadas", ressaltou.
Dirigindo-se a Trump sem nomeá-lo, Rohani afirmou: "Você é um homem de negócios (...). Não tem nenhuma experiência em política e nem em matéria de direito ou de acordos internacionais".
O texto de 2015 prevê uma retirada progressiva e condicional das sanções internacionais impostas ao Irã em troca da garantia de que a República Islâmica não desenvolveria uma arma atômica.
A Rússia também expressou o desejo de preservar o acordo, para o qual "não há alternativa", nas palavras do porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
"O acordo em seu estado atual é fruto dos esforços diplomáticos de muitos Estados", disse o porta-voz, antes de completar que a pergunta é se "é possível na situação atual refazer um trabalho que tenha tanto êxito".
O ceticismo era o mesmo em Bruxelas. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, insistiu na terça-feira que o acordo nuclear com o Irã devia ser mantido, um pacto que "está funcionando".
"Sobre o que pode acontecer no futuro, veremos no futuro. Mas há um acordo que existe, que está funcionando e precisa ser preservado", disse Mogherini.
Em visita a Teerã, o cineasta americano Oliver Stone se disse "particularmente chocado" de ver Macron, ao lado do presidente Donald Trump, pedir uma revisão do acordo sobre o programa nuclear iraniano. "Não pude acreditar", lamentou o diretor, cuja mãe é francesa.
Macron, que deve falar nesta quarta diante do Congresso americano, ressaltou que não é o caso de rasgar "um acordo para ir a lugar nenhum", mas construir "um novo acordo que seja mais amplo".
Ele ressaltou que deseja abordar com Trump "todas as questões da região", incluindo a Síria e as atividades balísticas de Teerã.
Desde que chegou à Casa Branca em janeiro de 2017, Trump critica o acordo concluído em julho de 2015. Na terça, voltou a falar de um texto "ridículo".
"Vamos ver o que vai acontecer após 12 de maio", afirmou, em referência à data em que deverá se pronunciar sobre o assunto.
Originalmente vindo para convencer o presidente americano, Macron parece ter flexibilizado sua posição. No domingo, havia dito ao canal Fox News que, fora deste acordo, "não há plano B".
Na ocasião, recebeu o apoio da China e da Rússia, que anunciaram que bloqueariam qualquer tentativa de "sabotar" o acordo nuclear e considerariam "inaceitável" qualquer revisão.
Primeiro líder estrangeiro a realizar uma visita de Estado aos Estados Unidos sob a presidência Trump, Emmanuel Macron tem feito tudo para estabelecer um relacionamento próximo e pessoal com o americano, cuja visão é ainda, em muitos aspectos, diametralmente oposta a dele.
Os dois líderes, com mais de 30 anos de diferença, demonstraram sua "amizade" desde a chegada de Macron na segunda-feira em Washington.
Emmanuel Macron falará diante do Congresso, sem Trump, sobre sua própria visão do mundo para 100 senadores e 435 representantes americanos. Uma honra já concedida a vários presidentes franceses, sendo o último Nicolas Sarkozy em 2009.
Ele deverá pleitear uma ação conjunta dos dois países para "reinventar a ordem mundial do século XXI". Para ele, os Estados Unidos e a França devem mostrar sua disposição de "continuar a escrever a história juntos".
Na terça-feira à noite, um jantar em homenagem aos Macron reuniu 130 ilustres convidados na Casa Branca.
Os dois presidentes brindaram a amizade entre seus países. "Muitos comentam sobre nossa amizade pessoal", observou Emmanuel Macron. "Dos dois lados do oceano, dois anos atrás, poucos teriam previsto que você e eu nos encontraríamos aqui".