Cristina Kirchner vai à Justiça por escândalo de propinas na Argentina

A ex-presidente denunciou um plano político, judicial e midiático contra líderes progressistas da América Latina
AFP
Publicado em 13/08/2018 às 17:08
A ex-presidente denunciou um plano político, judicial e midiático contra líderes progressistas da América Latina Foto: Foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP


A ex-presidente e senadora opositora argentina Cristina Kirchner denunciou nesta segunda-feira (13) um plano político, judicial e midiático contra líderes progressistas da América Latina, ao comparecer ante o juiz que a acusa de corrupção.

"É a nova estratégia regional para proscrever dirigentes, movimentos e forças políticas que ampliaram direitos e permitiram tirar da pobreza milhões de pessoas durante a primeira década e meia do século XXI", disse em um texto no qual desafiou o juiz Claudio Bonadio e o promotor Carlos Stornelli, encarregado do caso. 

Kirchner chegou sorridente e saudando as câmeras, acompanhada por dois dirigentes sociais e políticos, Eduardo Valdés e Juan Grabois, próximos ao papa Francisco. A ex-presidente permaneceu por cerca de uma hora no tribunal.

Cristina Kirchner aparece mencionada no "Escândalo dos Cadernos" junto com ex-funcionários de seu governo e mais de 20 grandes empresários argentinos assinalados por supostos pagamentos de subornos ou financiamento ilegal de campanhas eleitorais. O promotor diz que ela é a "chefe de uma associação criminosa".

Ao desafiar mais uma vez o juiz que conduz cinco das seis ações judiciais nas quais está imputada, Kirchner disse que "é uma decisão política do Poder Judiciário, em sua mais alta expressão, em coordenação com o Poder Executivo (do presidente Mauricio Macri) e os meios hegemônicos, para ungir Bonadio como braço de perseguição contra a minha pessoa".

"Inaugura-se assim uma nova categoria jurídica que excede a do juiz parcial ou 'não juiz': trata-se do juiz inimigo, ator principal da 'lawfare' (guerra jurídica)".

Bonadio está à espera de uma decisão do Senado para inspecionar seus domicílios.

A residência do casal Kirchner em Buenos Aires figura como ponto de entrega de bolsas com dólares em espécie que grandes empresários argentinos deram supostamente em troca de adjudicações em obras públicas, segundo o relato do ex-motorista Oscar Centeno, que teria realizado várias dessas viagens entre 2005 e 2015.

Outros lugares mencionados são a sede do governo (Casa Rosada) e a residência presidencial de Olivos.

Centeno, que trabalhou para o então vice-ministro de Planejamento, Roberto Baratta, levou um detalhado caderno dos percursos que fez durante 10 anos carregado de milhões de dólares.

Essas anotações ficaram conhecidas como "o escândalo dos cadernos", a partir do qual foi aberto um caso judicial pelo qual já há oito ex-funcionários kirchneristas detidos e 20 empresários envolvidos.

'Perseguição' 

A ex-presidente de centro-esquerda denuncia que sofre uma "perseguição política" e, nesta segunda, apontou diretamente para o presidente Mauricio Macri.

"Desde a posse do engenheiro Mauricio Macri como presidente fui submetida a uma múltipla perseguição judicial, comparável apenas com a que foi feita nos tempos em que estava suspensa a vigência da Constituição Nacional", continuou Kirchner no texto que entregou ao tribunal.

"Diferentemente das últimas ditaduras que assolaram a região na segunda parte do século XX e que se manifestavam eliminando fisicamente os seus adversários, em uma nova e aceita engrenagem midiática-judicial se recorre agora à estigmatização, ao julgamento dos meios e à confirmação na sede judicial com um resultado: a eliminação política", declarou em seu texto.

Kirchner está amparada pelos foros parlamentares, o que implica que pode ser acusada e condenada, mas não detida, a menos que o Congresso retire a imunidade.

Bonadio investiga Cristina Kirchner em vários outros casos, como a venda de dólar futuro e a assinatura de um memorando com o Irã, vinculado com o expediente do atentado em 1994 contra a associação mutual judaica AMIA.

O "Escândalo dos Cadernos" envolve os maiores empresários do país, entre eles Angelo Calcaterra, primo de Macri. Também figuram ex-diretores da companhia ítalo-argentina Techint e representantes da Câmara da Construção.

Os empresários detidos se declaram arrependidos ante a Justiça, o que permitiu a vários serem soltos.

O caso depende em boa parte da informação que estes arrependidos fornecerem ao juiz.

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