Migrantes hondurenhos avançam para EUA, apesar da ameaça de Trump

O presidente norte-americano Donald Trump ameaçou fechar a fronteira dos EUA com o México caso o país não impeça o fluxo de migrantes da América Central
AFP
Publicado em 18/10/2018 às 17:30
O presidente norte-americano Donald Trump ameaçou fechar a fronteira dos EUA com o México caso o país não impeça o fluxo de migrantes da América Central Foto: Foto: JOHAN ORDONEZ / AFP


Os migrantes hondurenhos avançavam nesta quinta-feira (18) pelo território da Guatemala até o México e mantêm intacta a esperança de entrar nos Estados Unidos, apesar da ameaça do presidente Donald Trump de fechar a fronteira sul para impedi-los de passar.

Após passarem a noite na Casa do Migrante da Igreja Católica na capital guatemalteca, os hondurenhos devem seguir a pé ou com a carona de motoristas solidários os 250 quilômetros que separam a Cidade da Guatemala da fronteiriça Tecún Uman, que liga este país com o estado mexicano de Chiapas (sul).

Contudo, a travessia se torna difícil, em especial para as dezenas de crianças, pois a chuva não parou nos últimos dias na região por onde os migrantes passaram.

Muitos seguram bandeiras de Honduras e outros empurram os carrinhos de seus filhos pequenos.

"Aqui vamos sempre à luta. A missão é entrar nos Estados Unidos. Seja o que Deus quiser", disse à AFP Yarelin Pineda, de 27 anos, que faz parte de um grupo de 25 migrantes, enquanto saía do centro histórico da capital.

A mãe, que cria seus filhos sozinha, originária de Tegucigalpa, disse que fugiu do seu país pela falta de emprego e moradia. Com a sua filha de três anos nos braços, acrescentou que sobrevivia fazendo tortilhas de milho e lavando roupa de vizinhos.

"A ideia é seguir agora para ver até onde conseguimos chegar hoje", continuou José Medina, de 27 anos, que anda de muletas por conta de uma lesão no pé.

Medina, que trabalhava na área de construção no departamento de El Progreso e deixou a esposa e três filhos em Honduras, se machucou após descer de um ônibus que lhe deu carona para avançar uma parte do caminho antes de chegar à Cidade da Guatemala.

"Vamos tentar (entrar nos Estados Unidos), ver se amolecemos o seu coração e nos deixam entrar", declarou, em alusão à ameaça de Trump de impedir a entrada dos hondurenhos.

A ameaça de Trump 

Nesta quinta-feira, o presidente americano ameaçou fechar a fronteira dos Estados Unidos com o México se esse país não impedir o fluxo de migrantes da América Central.

"Devo, nos termos mais firmes, pedir ao México que detenha este avanço e, se não conseguir fazê-lo, chamarei os militares e FECHAREI A NOSSA FRONTEIRA SUL!", tuitou.

A ameaça é feita a menos de três semanas das eleições de meio de mandato, nas quais os republicanos arriscam perder a maioria no Congresso.

"Vejo o ataque liderado pelo Partido Democrata (porque querem fronteiras abertas e as fracas leis existentes)  contra o nosso país de Guatemala, Honduras e El Salvador, cujos líderes fazem pouco para impedir este grande fluxo de pessoas, INCLUINDO MUITOS CRIMINOSOS", afirmou Trump.

Na terça-feira, Trump havia ameaçado acabar com a ajuda financeira que Washington concede a esses três países se não impedissem a caravana.

Os comentários também são feitos em um momento no qual o secretário de Estado, Mike Pompeo, se prepara fazer visitar o Panamá nesta quinta-feira e o México, na sexta.

O chanceler do próximo governo do México, que assumirá o cargo em 1º de dezembro, Marcelo Ebrard, disse à Rádio Centro que o posicionamento de Trump não o surpreende e que "era previsível", pois "está o processo eleitoral está muito próximo, então ele está fazendo um cálculo político".

Enquanto isso, a embaixada do México na Guatemala indicou que o seu governo é respeitoso com os "direitos humanos dos migrantes e com o direito internacional humanitário".

Não obstante, a nota afirma que toda pessoa que deseje entrar em território mexicano deve contar "com os documentos de viagem e um visto", e toda pessoa que entrar "no país de forma irregular" será devolvido "ao seu país de origem, de maneira segura e ordenada".

"Esta medida responde não apenas ao cumprimento da legislação nacional, como particularmente ao interesse do governo do México de evitar que tais indivíduos sejam vítimas das redes de tráfico de pessoas, que colocam em grave risco a sua segurança e integridade", acrescentou.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), por sua vez, fez um chamado para que "protejam os direitos de todas as pessoas migrantes, em especial as que estão em situação de vulnerabilidade".

A entidade comentou que pode dar assistência aos governos que assim solicitarem para fornecer ajuda humanitária e proteção aos migrantes, assim como facilitar o retorno voluntário e a reunificação familiar nos países de origem.

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