A Turquia questionou nesta quarta-feira (31) a disposição da Arábia Saudita em "cooperar sinceramente" com a investigação sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, na ausência de respostas sobre os mentores do crime e da localização do cadáver.
Uma autoridade turca disse à AFP, sob condição de anonimato, que as autoridades sauditas estão tentando "obter as provas" em mãos das autoridades turcas "contra os autores do assassinato".
"Não tivemos a impressão de que estão com pressa para cooperar sinceramente com a investigação", acrescentou.
"Pedimos aos sauditas informações sobre o local onde está o corpo de Jamal Khashoggi e a identidade de um suposto cúmplice local", acrescentou a fonte, insistindo no pedido turco de que os 18 suspeitos detidos na Arábia Saudita sejam extraditados para a Turquia "para que prestem contas por suas ações".
Jamal Khashoggi, jornalista que colaborava com o Washington Post, foi morto em 2 de outubro no consulado saudita em Istambul, para onde havia se dirigido para resolver trâmites burocráticos relacionados ao casamento com sua noiva turca.
Seu corpo ainda não foi encontrado, e Riad afirma que após o assassinato ele foi entregue a um "colaborador local".
Diante da pressão internacional, a Arábia Saudita finalmente reconheceu o assassinato do jornalista em seu consulado durante uma operação "não autorizada", mas as diferentes versões apresentadas provocaram ceticismo.
Segundo a imprensa turca, o corpo de Jamal Khashoggi foi desmembrado por agentes de Riad que o mataram no consulado.
Várias autoridades e meios de comunicação turcos acusaram o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, conhecido como "MBS", de estar por trás do assassinato, enquanto Riad tenta exonerá-lo, insistindo na natureza "não autorizada" da operação.
Entre rumores sobre os possíveis esforços da família real para consolidar o apoio à monarquia, o príncipe Ahmed bin Abdel Aziz Al Saud, irmão do rei Salman e tio de "MBS", retornou na terça-feira a Riad após vários meses em Londres, segundo membros da sua família.
No mês passado, o príncipe herdeiro minimizou as críticas feitas a manifestantes anti-sauditas em Londres, indicando uma possível discórdia dentro da família real.
O procurador-geral saudita, Saud bin Abdullah al Muajab, que está na Turquia desde domingo para cooperar com a investigação, esteve na terça-feira no escritório da inteligência turca em Istambul, segundo a agência turca DHA.
Durante sua visita, Al Muajab se encontrou duas vezes com o procurador da República em Istambul, Irfan Fidan, e esteve no consulado saudita.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu na terça-feira que se revele quem deu a ordem para assassinar Khashoggi.
O jornalista turco Abdülkadir Selvi, ligado ao poder, acusou na quarta-feira o procurador saudita de tentar proteger Mohamed bin Salman.
Ele escreveu no jornal Hurriyet que Al Muajab "escondeu" essa informação de seus colegas turcos para "salvar o príncipe herdeiro saudita".
Sem estabelecer qualquer ligação direta com o assassinato de Khashoggi, Washington pressionou Riad em outra questão: a guerra no Iêmen.
Os Estados Unidos pediram nessa terça-feira (30) o fim do conflito e o cessar dos bombardeios conduzidos pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, que entrou na guerra em 2015 em apoio ao presidente iemenita Abd Rabu Mansur Hadi, contra os rebeldes xiitas huthis.
Washington, que prevê a abertura de negociações de paz dentro de 30 dias, considera, no entanto, que o primeiro passo deve partir dos rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, inimigo comum dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.