Recorde de mulheres indígenas concorrem em eleições cruciais para Trump

Ao todo, são três mulheres. Duas são democratas e uma republicana que apoia fervorosamente o presidente Trump
AFP
Publicado em 01/11/2018 às 10:22
Ao todo, são três mulheres. Duas são democratas e uma republicana que apoia fervorosamente o presidente Trump Foto: SAUL LOEB / AFP


Nenhuma mulher indígena nunca chegou ao Congresso dos Estados Unidos, mas um trio quer mudar essas estatísticas. Duas são democratas e a terceira é republicana e partidária do presidente Donald Trump, que espera que seu partido mantenha o controle do Poder Legislativo nas eleições cruciais de meio de mandato em novembro.

"Sou mulher, sou uma mulher de cor", disse à AFP Deb Haaland, candidata no Novo México. Haaland é uma cidadã da tribo Pueblo Laguna, a mesma de Yvette Herrell, também aspirante a congressista neste estado na fronteira com o México. Mas essas duas mulheres, que não competem no mesmo distrito, não têm muito em comum além do sexo e ascendência indígena. Na política, parecem estar em polos opostos.

A primeira é anti-Trump, a outra o apoia fervorosamente; uma é pró-aborto, a outra é anti; Haaland apoia uma reforma migratória que comece com a legalização dos chamados 'dreamers', enquanto Herrell defende "combater" a imigração ilegal e reforças as fronteiras. "Precisamos empurrar as questões que importam em vez do que o presidente quer impor ao povo americano", diz Haaland.

Além de Haaland e Herrell, Sharice Davids disputa um assento no Kansas. Advogada e ex-lutadora de Artes Marciais Mistas (MMA), Davids pode ser a primeira congressista indígena e lésbica. Outros sete candidatos indígenas também buscarão assentos em novembro. O total de 10 é o dobro dos candidatos há dois anos. Mas o aumento não se limita apenas às eleições para o Congresso, mas também nos governos, parlamentos regionais, agências reguladoras.

Mark Trahant, editor do jornal especializado Indian Country Today, listou um recorde de 100 candidatos, dos quais 52 são mulheres. Ele também inclui as candidatas a governadoras Paulette Jordan em Idaho e Andria Tupola no Havaí, bem como Kevin Stitt em Oklahoma, estado que tem os dois únicos índios no Congresso atual: Tom Cole e Markwayne Mullin, ambos republicanos.

Ao longo da história americana, pouco mais de uma dúzia de indígenas foram eleitos para servir no Congresso.

Efeito Trump? 

Um número recorde de mulheres se apresentou para estas eleições, que renova todos os 435 assentos na Câmara dos Deputados e um terço dos 100 no Senado. Os democratas esperam o que eles chamam de "onda azul" em resposta às políticas conservadoras do presidente.

Para Trahant, Trump foi um fator motivador para que mais índios se candidatassem. Mas atribuir a Trump esse fenômeno seria a "resposta fácil", explicou Christine Marie Sierra, professora emérita de Ciência Política da Universidade do Novo México. "É uma história mais longa", que começou na década de 1990, quando, pela primeira vez, se falou "de o ano das mulheres". "Vimos um aumento de mulheres negras, latinas, asiáticas, sendo eleitas, até mesmo indígenas, embora em menor número". "Esta eleição gera mais interesse por causa do presidente e suas políticas, mas não é a única razão".

O voto indígena é consideravelmente menor nos Estados Unidos, entre 5 e 14 pontos menos que outros grupos étnicos. E a mensagem dos candidatos é geralmente direcionada para grupos mais amplos. "As mulheres de cor são boas candidatas" porque "elas se relacionam com o eleitor como mulher, como minoria, como mãe trabalhadora", disse Sierra.

Haaland apela a pessoas como ela - uma mãe solteira de 57 anos, que viveu na pobreza e superou o alcoolismo - que passaram necessidades.

Para Cole, membro da Nação Chickasaw, "é fundamental que os povos indígenas tenham uma voz que represente seus pontos de vista e valores". "Sempre me alegra ver americanos nativos concorrendo a cargos públicos, sejam eles democratas ou republicanos", disse Cole, favorito à reeleição, à AFP. "Eles trazem uma contribuição valiosa para o debate público e o processo legislativo", ressaltou.

Enquanto isso, Mullin enfrentará nesta eleição outro membro de sua tribo Cherokee: o democrata Jason Nichols, que considera que seu adversário é um congressista "apenas de nome".  "Nós merecemos mais", disse Nichols à AFP, destacando a "insensibilidade" do republicano em questões relacionadas ao meio ambiente, acesso a assistência médica e violência doméstica. "Seus votos tiveram um impacto negativo sobre os nativos".

Haaland declarou estar "ansiosa para estar do outro lado do corredor" politicamente, listando as principais questões da agenda indígena: "terra, água, recursos federais". 

"Com mais indígenas em posições de poder, poderemos alcançar progressos para todas as comunidades indígenas e lembrar aos Estados Unidos que estamos aqui e nossa identidade é válida", disse ele recentemente no Twitter.

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