O ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, anunciou nesta quarta-feira (14) sua demissão do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, um dia depois de um acordo concluído indiretamente com os grupos palestinos para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Em declaração à imprensa, o ministro ultranacionalista denunciou o cessar-fogo como uma "capitulação ao terrorismo" e afirmou que "deveríamos acertar uma data para eleições o mais rapidamente possível", lançando incerteza sobre o futuro do governo em vigor desde 2015, considerado o mais à direita da história de Israel.
Um funcionário do Likud, partido de direita do primeiro-ministro, disse que Netanyahu assumiria a pasta de Defesa - ele já detém a pasta de Relações Exteriores - e determinou que as eleições antecipadas não seriam necessárias.
Nesta quarta-feira, Benjamin Netanyahu, no cargo por quase uma década, iniciou discussões com os caciques do Likud e os líderes de outras formações aliadas a fim de "estabilizar" sua coalizão, segundo um funcionário que pediu anonimato.
Mas a maioria dos comentaristas estava cética sobre esses esforços, contando com eleições antecipadas que já pariam no ar há meses.
A retirada da coalizão do pequeno partido de Lieberman, Israel Beiteinou, deixa Netanyahu com uma maioria teórica mínima de um único assento entre 120.
Em um período pré-eleitoral que é propenso a um escalonamento, outros membros do governo correram para ocupar a vaga livre.
O ministro da Educação, Naftali Bennett, chefe da Casa Judaica, partido nacionalista religioso, emitiu um ultimato na noite de quarta-feira exigindo o portfólio da Defesa.
O grupo parlamentar desta formação, cujo apoio é agora vital para a sobrevivência da coalizão, "exigiu" em um comunicado a pasta "para permitir que Israel retome sua iniciativa e imponha a dissuasão".
Sem essa nomeação "o (atual) governo não tem motivos para existir", acrescentou a declaração do Casa Judaica, que defende uma política muito mais dura contra os islamitas palestinos do Hamas, no poder na Faixa de Gaza.
O primeiro-ministro tem autoridade para dissolver um Parlamento hostil. Os eleitores devem então ser chamados às urnas dentro de 90 dias.
Após o pior confronto desde o conflito de 2014, o movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, já saudou a renúncia de Lieberman como uma "vitória de Gaza, que conseguiu, com sua resistência, minar a cena política" israelense.
No centro da discórdia israelense: o cessar-fogo alcançado indiretamente nessa terça-feira (13), sobre a intercessão egípcia, com os grupos de Gaza.
A trégua foi efetivamente respeitada na quarta-feira depois de uma escalada que levou grupos armados de Gaza a dispararem centenas de foguetes e morteiros contra Israel e o exército israelense a bombardear dezenas de posições no enclave.
Nesta quarta, os estudantes da Faixa de Gaza retornaram às aulas, no entulhado enclave entre Israel, o Egito e o Mediterrâneo.
Com o cessar-fogo, Netanyahu afastou a possibilidade de uma nova guerra, mas criou uma batalha política.
Cerca de 300 israelenses protestaram na noite desta quarta-feira aos gritos de "segurança, segurança" em Ashkelon e bloquearam a estrada entre a cidade e a Faixa de Gaza.
Assim, com o cessar-fogo, "o Estado compra tranquilidade a curto prazo ao custo de graves danos a longo prazo para a segurança nacional", disse Lieberman, que também pediu eleições antecipadas.
Lieberman também criticou a decisão do governo de permitir a transferência de dólares do Catar para a Faixa de Gaza, principalmente para pagar os salários dos funcionários do movimento islamista palestino Hamas.