COMEMORAÇÕES E PROTESTOS

China comunista celebra 70 anos ofuscada pela violência em Hong Kong

O Partido Comunista Chinês desafiou as probabilidades e tem se mantido firme no poder há sete décadas

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Publicado em 01/10/2019 às 8:14
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A China comunista iniciou nesta terça-feira grandes celebrações por seu 70º aniversário, que foi marcado em Hong Kong por um dia de  protestos, que terminaram com um manifestante ferido por um tiro.

"Nada pode fazer com que os pilares da nossa grande nação sejam abalados. Nada pode impedir que a nação e o povo chineses avancem", declarou o presidente chinês, Xi Jinping, na porta de Tiananmen (Paz Celestial), o mesmo local onde Mao Tsé-Tung proclamou a fundação da República Popular da China, em 1º de outubro de 1949. Em seguida, Xi passou em revista as tropas a bordo de um veículo conversível.

O Partido Comunista Chinês desafiou as probabilidades e tem se mantido firme no poder há 70 anos, adaptando-se a um mundo em constante mudança e sobrevivendo aos "camaradas" da União Soviética.

Confira a evolução através do tempo do partido que fundou a República Popular da China em 1º de outubro de 1949:

Décadas turbulentas

Durante quase três décadas, a China teve seu estilo próprio do governo: o maoismo. Sob o regime do fundador da República Popular da China, Mao Tsé-Tung, o Estado assumiu o controle das indústrias e os estabelecimentos agrícolas e as granjas foram coletivizados.

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Protestos na Causeway Bay, em Hong Kong - Foto: AFP
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Protestos na Causeway Bay, em Hong Kong - Foto: AFP
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Presidente chinês Xi Jinping durante formação de tropa - Foto: AFP
Foto: GREG BAKER / AFP
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Policiais e manifestantes entraram em confronto em Hong Kong - Foto: AFP
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Policiais e manifestantes entraram em confronto em Hong Kong - Foto: AFP
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Imagem gigante do líder Mao Zedong durante parada em Pequim - Foto: AFP
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O Grande Salto Adiante de 1958 - uma reorganização maciça do trabalho para impulsionar a produção agrícola e industrial - acabou matando de fome dezenas de milhões de pessoas. Mao lançou em 1966 a Revolução Cultural, um movimento que esmagou seus adversários políticos e também terminou em desastre, devido aos excessos cometidos pela Guarda Vermelha em todo o país.

Abertura

Dois anos depois da morte de Mao, o Partido Comunista abandona o maoismo e põe em marcha, em 1978, sua política de "abertura e reforma" sob a liderança de Deng Xiaoping. A economia cresce após uma série de medidas pró-mercado, que permitem os investimentos externos e o capital privado.

O partido teve um "certo pragmatismo para reconhecer que a sobrevivência do regime depende do desempenho econômico e este requer uma interação com a economia mundial", afirma Sam Crane, professor especializado em política chinesa no Williams College dos Estados Unidos. Milhões de pessoas saíram da pobreza e o país abriga atualmente centenas de bilionários e empresas gigantescas de Internet, como Alibaba e Tencent.

Controle estrito

Neste "socialismo com características chinesas", é possível ver Ferraris nas ruas das grandes cidades e os mais abastados compram em lojas de luxo como Gucci. Mas uma coisa não mudou: o Partido Comunista mantém com firmeza as rédeas da economia.

O presidente chinês, Xi Jinping, deixou claro nesta segunda-feira em uma exposição sobre o 70º aniversário que os históricos feitos do país "demonstram por completo que só o Partido Comunista pode liderar a China", segundo a agência oficial Xinhua.

"Células" do partido estão presentes nas companhias privadas e as empresas nas mãos do Estado permanecem como atores principais na economia. Até mesmo o bilionário fundador da Alibaba, Jack Ma, está entre os 90,6 milhões de membros do partido.

O que aconteceria se Karl Marx viajasse no tempo para ver a China de hoje?  "Se Marx voltasse, acho que diria que isto não é 'socialista'. Isto quer dizer que a China não está se movendo na direção histórica do 'comunismo', mas se estabeleceu como um 'capitalismo de Estado', porém mais rígido com fortes elementos autoritários", explica Crane.

O pensamento de Mao e Xi

Outra diferença capital com a época de Mao nos anos seguintes à sua morte foi o final do poder unipessoal. Deng apoiou um sistema de liderança "coletivo" e uma sucessão organizada após sua morte em 1997.

Jiang Zemin foi presidente durante dois mandatos de cinco anos e seu sucessor, Hu Jintao, cumpriu com a nova tradição. Mas Xi voltou aos velhos tempos para se tornar o líder mais poderoso desde Mao. Como Mao, Xi se beneficiou do culto à personalidade desenhado por veículos estatais.

O fundador do país teve o "Pensamento Mao Tsé-Tung". O atual líder consagrou na Constituição o "Pensamento Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era". Mao teve seu "Pequeno Livro Vermelho". Xi tem sua versão do século XXI, um aplicativo chamado "Study Xi, Strong Country" (Estude Xi e fortaleça a Nação, em tradução livre), em seus ensinamentos.

Xi supervisou a linha dura contra a corrupção que castigou mais de 1,5 milhão de responsáveis do partido, uma medida popular entre os cidadãos comuns, mas observada pelos analistas como uma possibilidade de expurgar rivais. Poderia inclusive se perpetuar no poder se renovados os limites ao mandato presidencial. 

Partido de linha dura

A abertura da economia não foi acompanhada de reformas políticas. A China tem mais um aniversário este ano, um que o partido se assegurou de que não será lembrado: o 30º aniversário da brutal repressão do protesto pró-democracia na Praça da Paz Celestial.

O governo inclusive fechou o certo sobre a sociedade sob o mandato de Xi, detendo ativistas, aumentando a censura na Internet e negando-se a libertar o dissidente e prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo quando estava morrendo de câncer. Os opositores temem que as autoridades utilizem o desenvolvimento tecnológico da China, como o reconhecimento facial, para vigiar mais seus cidadãos.

Na região de Xinjiang, no noroeste, a maioria da etnia uigur sofreu na própria carne o alto custo de estar enfrentado com o governo. Os defensores dos direitos humanos suspeitam que o governo chinês tenha internado em acampamentos de "reeducação" a um milhão de pessoas, principalmente desta minoria e da kazaja, ambas muçulmanas

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