Autoridades locais e tribais negociam a saída de milhares de civis da cidade síria de Raqa antes da ofensiva final das Forças Democráticas Sírias (FDS), que já controlam 90% da "capital" do grupo Estado Islâmico (EI).
"O conselho civil de Raqa iniciou negociações para determinar a melhor forma de permitir que os civis presos entre os combatentes do Daesh (acrônimo árabe do EI) abandonem a cidade", afirmaram as FDS em um comunicado.
Este conselho é um Executivo local no exílio, instalado ao norte de Raqa.
As FDS, uma aliança curdo-árabe apoiada pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, afirmaram, no entanto, que os que abandonarem Raqa depois de lutarem pelo EI serão entregues às autoridades locais e levados à justiça.
A ONU calcula que 8.000 civis permanecem na cidade de Raqa. As FDS afirmam que alguns deles estão sendo utilizados como escudos humanos pelos combatentes do EI.
De acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede de fontes na no país, as negociações também abordam a maneira de permitir que os jihadistas se entreguem e que suas famílias abandonem Raqa.
"As negociações abordam uma saída dos combatentes do Daesh (...) e a possibilidade de que suas famílias possam seguir para Albu Kamal, leste da província de Deir Ezzor", declarou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
A cidade síria de Albu Kamal, perto da fronteira com o Iraque, permanece sob controle do EI.
Esta não é a primeira tentativa de negociar um acordo de retirada de combatentes do EI de alguns territórios. Em maio, dezenas de jihadistas conseguiram deixar a cidade de Tabqa, ao oeste de Raqa, antes da entrada das FDS.
Outro acordo, sem o envolvimento de nenhuma força apoiada pela coalizão internacional, permitiu que jihadistas entrincheirados em uma zona situada entre Líbano e Síria seguissem para o leste da Síria, o que provocou críticas de americanos e iraquianos.
Na terça-feira, o general Jonathan Braga, diretor das operações da coalizão internacional, justificou as negociações ao afirmar que suas tropas tinham "a responsabilidade de vencer o Daesh preservando na medida do possível a vida dos civis".
Os habitantes da cidade setentrional sofrem as consequências da ofensiva contra os jihadistas. Segundo o OSDH, os bombardeios da coalizão provocaram centenas de mortes entre os civis.
As FDS calculam que entre 600 e 700 combatentes do EI continuam ativos em Raqa, de onde vários deles tentaram sair na terça-feira, segundo uma fonte da aliança.
Também nesta quarta-feira (11), três suicidas se explodiram perto da sede da polícia síria em Damasco, causando dois mortos e seis feridos, informou o ministério do Interior da Síria.
Dois terroristas "tentaram lançar um ataque à sede do comando da polícia", anunciou o ministério, citado pela imprensa oficial.
"Os guardas abriram fogo, o que fez com que se explodissem antes de entrarem no prédio para alcançar seus fins", explicou.
"A polícia conseguiu cercar um terceiro terrorista atrás do prédio, forçando-o a acionar seus explosivos", acrescentou o ministério.
Este triplo atentado, reivindicado pelo EI, é o segundo do tipo em menos de duas semanas na capital da Síria. Em 2 de outubro, homens atacaram uma delegacia de polícia no bairro de Midane, matando 17 pessoas. O ataque também foi reivindicado pelo EI.
Principal fortaleza do regime de Bashar al-Assad, a capital da Síria foi atingida por vários ataques sangrentos desde o início da guerra em 2011, mas tem sido relativamente poupada dos combates.
A guerra na Síria já provocou a morte de mais de 330 mil pessoas desde março de 2011.