Autoridades negociam retirada de civis antes da ofensiva final à Raqa

A guerra na Síria já provocou a morte de mais de 330 mil pessoas desde março de 2011
AFP
Publicado em 11/10/2017 às 15:19
A guerra na Síria já provocou a morte de mais de 330 mil pessoas desde março de 2011 Foto: Foto: BULENT KILIC / AFP


Autoridades locais e tribais negociam a saída de milhares de civis da cidade síria de Raqa antes da ofensiva final das Forças Democráticas Sírias (FDS), que já controlam 90% da "capital" do grupo Estado Islâmico (EI).

"O conselho civil de Raqa iniciou negociações para determinar a melhor forma de permitir que os civis presos entre os combatentes do Daesh (acrônimo árabe do EI) abandonem a cidade", afirmaram as FDS em um comunicado.

Este conselho é um Executivo local no exílio, instalado ao norte de Raqa.

As FDS, uma aliança curdo-árabe apoiada pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, afirmaram, no entanto, que os que abandonarem Raqa depois de lutarem pelo EI serão entregues às autoridades locais e levados à justiça.

A ONU calcula que 8.000 civis permanecem na cidade de Raqa. As FDS afirmam que alguns deles estão sendo utilizados como escudos humanos pelos combatentes do EI.

De acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede de fontes na no país, as negociações também abordam a maneira de permitir que os jihadistas se entreguem e que suas famílias abandonem Raqa.

"As negociações abordam uma saída dos combatentes do Daesh (...) e a possibilidade de que suas famílias possam seguir para Albu Kamal, leste da província de Deir Ezzor", declarou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

A cidade síria de Albu Kamal, perto da fronteira com o Iraque, permanece sob controle do EI.

Esta não é a primeira tentativa de negociar um acordo de retirada de combatentes do EI de alguns territórios. Em maio, dezenas de jihadistas conseguiram deixar a cidade de Tabqa, ao oeste de Raqa, antes da entrada das FDS.

Outro acordo, sem o envolvimento de nenhuma força apoiada pela coalizão internacional, permitiu que jihadistas entrincheirados em uma zona situada entre Líbano e Síria seguissem para o leste da Síria, o que provocou críticas de americanos e iraquianos.

Na terça-feira, o general Jonathan Braga, diretor das operações da coalizão internacional, justificou as negociações ao afirmar que suas tropas tinham "a responsabilidade de vencer o Daesh preservando na medida do possível a vida dos civis".

Os habitantes da cidade setentrional sofrem as consequências da ofensiva contra os jihadistas. Segundo o OSDH, os bombardeios da coalizão provocaram centenas de mortes entre os civis.

As FDS calculam que entre 600 e 700 combatentes do EI continuam ativos em Raqa, de onde vários deles tentaram sair na terça-feira, segundo uma fonte da aliança.

Também nesta quarta-feira (11), três suicidas se explodiram perto da sede da polícia síria em Damasco, causando dois mortos e seis feridos, informou o ministério do Interior da Síria.

Dois terroristas "tentaram lançar um ataque à sede do comando da polícia", anunciou o ministério, citado pela imprensa oficial.

"Os guardas abriram fogo, o que fez com que se explodissem antes de entrarem no prédio para alcançar seus fins", explicou.

"A polícia conseguiu cercar um terceiro terrorista atrás do prédio, forçando-o a acionar seus explosivos", acrescentou o ministério.

Este triplo atentado, reivindicado pelo EI, é o segundo do tipo em menos de duas semanas na capital da Síria. Em 2 de outubro, homens atacaram uma delegacia de polícia no bairro de Midane, matando 17 pessoas. O ataque também foi reivindicado pelo EI.

Principal fortaleza do regime de Bashar al-Assad, a capital da Síria foi atingida por vários ataques sangrentos desde o início da guerra em 2011, mas tem sido relativamente poupada dos combates.

A guerra na Síria já provocou a morte de mais de 330 mil pessoas desde março de 2011.

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