Haddad e Ciro em disputa acirrada pelo voto da esquerda

Haddad subiu nas pesquisas, onde aparece com 16% das intenções de voto. Ciro vem logo em seguida, com 13%, segundo a Datafolha
AFP
Publicado em 21/09/2018 às 16:44
Haddad subiu nas pesquisas, onde aparece com 16% das intenções de voto. Ciro vem logo em seguida, com 13%, segundo a Datafolha Foto: Foto: Lula Marques/AGPT e Agência Brasil


Fernando Haddad e Ciro Gomes disputam o eleitorado de esquerda e uma vaga no segundo turno das eleições, em uma espécie de duelo partidário que começou há quatro décadas.

Indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do PT, Haddad subiu nas pesquisas e agora tem 16% das intenções de voto, seguido de Ciro Gomes, do PDT, com 13%, de acordo com a mais recente enquete do Datafolha.

O candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, com 28%, parece que já tem sua presença assegurada no segundo turno de 28 de outubro.

Haddad, de 55 anos, e Ciro, de 60, trocam farpas, mas sem exagerar muito, pois sabem que podem vir a precisar dos votos do outro.

Haddad, que subiu meteoricamente nas pesquisas após ser "ungido" por Lula, se diz convicto de que vai ter o apoio de Ciro. 

"Eu aceitaria com muita honra. Porém, ele está se precipitando como um sinal de inexperiência e/ou de arrogância", comentou Ciro. 

O ex-governador do Ceará questionou, além disso, a "fraqueza política" de Haddad, cuja legitimidade emana do ex-presidente petista, que se encontra preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro cumprindo uma pena de 12 anos.

"O Brasil não suporta mais um presidente fraco que tenha que consultar seu mentor sempre que aparecer alguma crise", disparou Ciro, em alusão ao governo de Dilma Rousseff, herdeira política de Lula e destituída do cargo em 2016.

A resposta de Haddad não se fez esperar, e destacou o caráter explosivo de Ciro.

"O Ciro é meu amigo, nós pertencemos ao mesmo campo, mas às vezes temos conceitos diferentes. A força de um presidente para mim se dá pela firmeza e autocontrole. Tem que ter essas duas qualidades para presidir o país (...) Eu sou uma pessoa firme e controlada", enfatizou.

O PDT e o PT foram fundados em 1980, no fim do governo militar (1964-1985).

O líder trabalhista Leonel Brizola, de retorno do exílio, pretendia voltar a ser a figura política central que foi no início dos anos 60, como herdeiro do presidente nacionalista Getúlio Vargas. 

Mas o PT, surgido da confluência de movimentos sindicais e sociais, ex-guerrilheiros e comunidades religiosas oriundas da Teologia da Libertação, imprimia uma nova dinâmica à esquerda sob a condução do metalúrgico Lula.

"O PT classificou Brizola de populista e o PDT de partido arcaico e herdeiro do velho sindicalismo pelego do pré-1964", enquanto Brizola "denunciava o radicalismo do PT", explica Alessandro Batistella, professor do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF).

"Portanto, na década de 1980, o PDT e o PT caracterizavam-se por serem partidos socialistas, ambos com propostas nacional-estatistas. Contudo, o PT apresentava uma plataforma reformista radical, enquanto o PDT uma plataforma reformista mais moderada", acrescentou.

"Isso ficou evidenciado nas campanhas eleitorais de Brizola e Lula em 1989, na qual Lula derrotou Brizola por uma pequena margem de votos e disputou o segundo turno com Fernando Collor", explicou.

"Sapo barbudo" 

Na eleição de 1989, Lula ficou em segundo, na frente de Brizola, e perdeu o segundo turno para Fernando Collor. Brizola pediu para que seus seguidores votassem em Lula, mas sem deixar a ironia de lado: "A política é a arte de engoliar sapos. Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, este sapo barbudo?", questionou.

Em 1994, Lula voltou a ficar em segundo, com 27% dos votos, a metade de Fernando Henrique Cardoso. Brizola ficou em quinto.

Em 1998, Lula se apresentou junto a Brizola como companheiro de chapa, mas FHC foi reeleito, novamente no primeiro turno.

Em 2002, quando Lula por fim venceu, o PDT apoiou no primeiro turno Ciro Gomes, que ficou em quarto. Ele foi nomeado ministro da Integração Nacional. Brizola, por sua vez, não demorou a denunciar as políticas pró-mercado do PT.

Em 2004, Brizola foi a única pessoa citada pelo jornalista do New York Times, Larry Rothers, em um problemático artigo sobre o suposto alcoolismo de Lula.

Quando o líder do PDT morreu em junho daquele ano, Lula decretou três dias de luto. Mas no funeral o falecido foi recebido aos gritos de "Traidor!"

Atualmente, o PT e o PDT "estão posicionados como partidos social-democratas de centro-esquerda", mas com nuances diferentes, explica Batistella.

"Ciro defende algumas bandeiras tradicionais do trabalhismo, como um projeto nacional-desenvolvimentista através de um Estado intervencionista", afirma ainda o professor.

"Já Haddad aposta suas fichas no capital político do ex-presidente Lula e faz a defesa das bandeiras sociais tradicionais do PT", conclui.

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