Faltando poucos dias para o segundo turno, o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), com um pé no Palácio do Planalto segundo pesquisas de intenção de voto, voltou a recorrer à retórica "agressiva" para advertir que os "marginais vermelhos serão banidos" do Brasil.
As declarações geraram preocupação, em uma campanha pontuada por ameaças e atos de violência em que se registraram episódios de racismo e homofobia, com agressões físicas e inclusive um atentado contra a vida do próprio candidato e um homicídio atribuído a divergências políticas.
"Perderam ontem, perderam em 2016 e vão perder a semana que vem de novo. Só que a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria", vociferou Bolsonaro no domingo (21), falando por telefone do pátio de uma casa, segundo vídeo postado no YouTube.
Suas palavras foram transmitidas ao vivo durante uma manifestação de apoio à sua candidatura na Avenida Paulista, centro de São Paulo.
Desde que foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro, e sua posterior recuperação, que incluiu duas cirurgias, Bolsonaro se comunica com seus seguidores pelas redes sociais, raramente concede coletivas de imprensa e cancelou a sua participação em todos os debates, aos quais já era reticente.
"Essa pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem uma bandeira vermelha e tem a cabeça lavada", acrescentou, enquanto aguardava uma pausa nos aplausos de seus apoiadores para prosseguir.
"O que me preocupa é como usa o termo 'vermelhos'. Quem são os vermelhos? São as pessoas que discordam dele? São todas as pessoas de esquerda, todas as pessoas progressistas? É um discurso de incitação de ódio a toda uma corrente politica", disse à AFP Maurício Santoro, analista da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Bolsonaro normalmente usa um tom agressivo para se referir aos seus adversários, mas desde que se registraram episódios de violência tinha moderado suavemente seu discurso. Por que retomá-lo na reta final, com a vitória quase certa?
"O que explica esse tom agressivo é exatamente essa vantagem grande que ele tem (...) Ele quer usar essa popularidade que ele tem agora para levar adiante uma agenda política muito extremista contra a esquerda. Ele vem sendo ridicularizado pela esquerda há 30 anos e agora ele tem o poder para bater de volta", sustenta Santoro.
Seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), preso desde abril em Curitiba para cumprir uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, também foi alvo de seu discurso inflamado.
"E seu Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para soltar o decreto de indulto, eu vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia", afirmou.
Também reiterou seu discurso contra a corrupção e que haverá Forças Armadas "altivas", que "estará (sic) colaborando com o futuro do Brasil". E afirmou que os militantes do PT - a "petralhada", em sua linguagem depreciativa - "verão uma Polícia Civil e Militar com retaguarda jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês".
O cientista político André César, da consultoria Hold, avalia que grosserias como estas fazem parte do "pacote Bolsonaro" habitual e têm um poder muito limitado de mudar a perspectiva até o domingo.
"O que está acontecendo não muda nada. As posições estão cristalizadas, de um lado e do outro. Não tem mais elementos. Uma novidade muito grave não vai conseguir impactar", analisa.
Santoro concorda. E, em vista dos episódios de violência registrados recentemente, se Bolsonaro for eleito e mantiver o tom beligerante, além do papel das autoridades para combater este tipo de agressões, será crucial o papel da sociedade civil, de "líderes religiosos, vozes na imprensa e políticos moderados" para acalmar os ânimos do país, avalia.
As últimas pesquisas dão 59% das intenções de voto para Bolsonaro contra 41% para Haddad.