Direitos Humanos

Ideli compara tratamento contra crack à internação compulsória por hanseníase

A política de internação compulsória de usuários de drogas é amplamente defendida na sociedade

Agência Brasil
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Publicado em 23/01/2015 às 21:12
Valter Campanato/Agência Brasil
A política de internação compulsória de usuários de drogas é amplamente defendida na sociedade - FOTO: Valter Campanato/Agência Brasil
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A ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) , Ideli Salvatti, condenou a internação compulsória dada a usuários de crack comparando-o com a política de estado adotada nos anos 1940 que isolava pessoas com hanseníase. O paralelo foi feito hoje (23) no lançamento do documentário “Paredes Invisíveis - Região Nordeste”, um relato de como foi a vida de quem tinha hanseníase e foi compulsoriamente tirado da família para viver em hospitais-colônia.

“[O documentário vem] não só resgatar a memória e a história triste desse sofrimento absoluto que essas pessoas passaram mas é também preventivo. Infelizmente a gente percebe que na sociedade nós tivemos muito próximos de cometer situações parecidas com as pessoas portadoras da aids e agora na questão das drogas, principalmente do crack. Você percebe um discurso muito parecido com o da questão das pessoas atingidas pela hanseníase. [A ideia é] isola, separa, tira daqui, quando nós temos é que entender que doenças precisam ser encaradas pela sociedade e sempre com a solidariedade humana”, defendeu a ministra.

A política de internação compulsória de usuários de drogas é amplamente defendida na sociedade e usada desde 2013 no estado de São Paulo como política de combate às drogas.

Nos anos 1940, o governo brasileiro decidiu isolar em hospitais-colônia as pessoas diagnosticadas com hanseníase. Com o fim da política, que durou cerca de 40 anos, muitas colônias viraram bairros ligados a hospitais referência na doença. Das cerca de 100 colônias, ainda restam 30.

“Chegamos a ter mais de 100 colônias, onde as pessoas identificadas como portadoras dessa doença eram afastadas, tolhidas da liberdade, não podiam circular. Separavam marido da mulher, dos filhos, chegavam a ter dinheiro próprio na colônia para não haver risco de disseminação da doença“, relembrou a ministra.

Em 2007, o governo brasileiro estipulou uma indenização a ser paga a pessoas que passaram pela situação de confinamento. Quase 12.500 pessoas entraram com o pedido e mais de 8.800 estão recebendo mensalmente R$1.205,37. Ainda hoje pessoas entram com pedido de indenização.

Durante o evento, a ministra citou a situação de três colônias que vão ter a intervenção da SDH. Em Goiânia, os cerca de 370  moradores da Colônia de Santa Marta, muitos com dificuldades de locomoção, estão tendo dificuldades para acessar o hospital ligado à colônia. Na Paraíba, na Colônia Getúlio Vargas, a gestão local fechou o hospital ligado à colônia onde moram cerca de 100 pessoas, pois uma intervenção do Ministério Público determinou que, por falta de condições, o hospital deveria ou ser fechado ou receber melhorias. Já em outra colônia, cujo nome não foi citado, há denúncias de que um administrador está se apropriando da indenização devida aos moradores.

Segundo a ministra, a SDH vai interferir nas três situações em favor dos moradores.


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