A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta quarta-feira (3) convite para o ex-presidente do Uruguai José Mujica explicar suas declarações, publicadas em um livro escrito por dois jornalistas uruguaios, de que o ex-presidente Lula lamentou o mensalão e disse que teve que lidar com "coisas imorais e chantagens" enquanto esteve na Presidência da República.
Por ser um convite, Mujica não é obrigado a comparecer ao Senado brasileiro. Autor do convite, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse esperar que o ex-presidente uruguaio atenda ao chamado.
"Tenho a certeza de que Mujica não vai decepcionar os brasileiros e virá ao Senado esclarecer essa história. Ele, como um defensor da ética e um homem que sempre condenou práticas corruptas, não vai nos deixar sem explicações sobre o ocorrido", afirmou Caiado.
Na opinião do senador, Mujica terá interesse em comparecer à comissão por não concordar com as "práticas petistas de manutenção do poder" a partir do uso de recursos de empresas estatais -o que teria ocorrido no mensalão.
No livro "Una oveja negra al poder" (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre), de Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, o ex-presidente do Uruguai relata que Lula lhe disse: "Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens".
A conversa entre os dois presidentes teria ocorrido em março de 2010, segundo o relato de Mujica. "Essa era a única forma de governar o Brasil", continuou o brasileiro, sempre de acordo com o livro. Mujica conta que Lula falou com pesar, em encontro semanas antes de o uruguaio assumir a presidência. O então vice-presidente de Mujica, Danilo Astori, estava junto com Mujica.
Depois da divulgação do teor do livro, Mujica recuou e disse que nunca conversou com Lula sobre o mensalão. O ex-presidente uruguaio afirmou que os dois falaram sobre pressões e chantagens no governo, mas "nada sobre dinheiro ou corrupção".
As declarações no livro foram interpretadas como uma referência direta ao escândalo do mensalão, revelado em 2005, que terminou com a prisão de vários líderes petistas.
Mujica narra que Lula sentia a necessidade de explicar a situação. No Brasil, o petista sempre negou que tivesse conhecimento do mensalão. Em declarações dadas em 2005, após a revelação do esquema, o então presidente disse que se sentia traído.
"Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país", disse Lula na época.
No livro, Mujica defende o ex-presidente brasileiro, dizendo que grandes políticos tiveram que recorrer a mecanismos semelhantes -e que este seria "o preço infame das grandes obras".