O xingamento feito pelo ex-presidente e senador, Fernando Collor (PTB-AL), ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, da tribuna do Senado na última quarta-feira (5) não foi incluído no registro histórico das sessões da Casa.
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As notas taquigráficas do plenário omitem a fala de Collor que, murmurando, chamou Janot de "filho da puta" quando se defendia das acusações de que um grupo ligado a ele teria recebido R$ 26 milhões em propina do esquema de corrupção da Petrobras.
Segundo a área técnica responsável pelo registro, nenhum senador pediu para que o palavrão fosse retirado do registro oficial. Como o senador falou em tom de voz baixo, acredita-se que os taquígrafos não puderam ouvir a ofensa durante o discurso. O único registro existente no site da Casa é o vídeo do discurso feito pela TV Senado.
O xingamento também passou em branco pelos senadores. Nenhum parlamentar apresentou requerimento por quebra de decoro à Mesa Diretora ou ao Conselho de Ética da Casa. Questionados sobre o ocorrido, alguns senadores preferiram não se pronunciar sobre o caso e minimizaram a reação de Collor.
De acordo com o regimento interno da Casa, todos os senadores são proibidos de usarem de expressões descorteses ou insultuosas. Caso algum senador considerasse, o caso poderia ser levado ao Conselho de Ética para que o colegiado analisasse se houve, de fato, quebra de decoro parlamentar.
Collor fez o xingamento no momento em que explicava que a apreensão de três carros de luxo em sua casa em julho fazia parte do que chamou de "espetáculo midiático" e que os carros foram comprados com dinheiro lícito, Collor sussurrou o xingamento.
"As empresas têm contrato social, estão devidamente registradas na junta comercial, têm suas atividades de acordo com o que define a legislação. Se existem parcelas em atraso é uma questão comercial que diz respeito a mim e ao credor, não podendo jamais, em tempo algum, sob o risco de uma grave penalização judicial a quem afirma, que tal atraso se deve a falta de recursos escusos. Afirmações caluniosas e infames. Filho da puta", disse.
Os investigadores justificam que os carros podem ser produto de crime. Além disso, os automóveis estão em nome de empresas, portanto, ele não teria a legitimidade direta para requerer a devolução. Uma das empresas, a Água Branca, tem Collor como sócio.
OFENSA
Durante o discurso, Collor acusou Janot de usar o vazamento seletivo de informações sigilosas da investigação como parte de uma "estratégia ardilosa" para permanecer no posto.
"Querem me trazer como personagem, embora involuntário de minha parte, de uma campanha eleitoral que está se desenrolando e será concluída hoje", disse o senador.
Fernando Collor volta a condenar atitudes do procurador-geral da República
A presidente Dilma Rousseff escolheu nesta quinta (6) reconduzir Rodrigo Janot para mais um mandato de dois anos à frente da Procuradoria-Geral da República.
Nesta quinta pela manhã, a presidente recebeu a lista tríplice dos mais votados da categoria das mãos do presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), José Robalinho Cavalcanti.
O procurador-geral obteve 799 votos, seguido de Mário Bonsaglia, com 462 votos. Raquel Dodge, em terceiro, recebeu 402 votos. Ao todo, votaram 983 procuradores, sendo que cada um pode escolher três nomes.
O resultado folgado da eleição mostrou que a categoria apoia o trabalho de Janot à frente das investigações da Lava Jato. Ele tem sido criticado e alvo de ameaças de retaliações de congressistas devidos às investigações que atingem políticos nos desvios da estatal.