Cunha barrou empresários na CPI do BNDES, dizem deputados

Entre os que seriam convocados estavam Eike Batista, do grupo EBX, e Joeslley e Wesley Batista, da JBS
Da Folhapress
Publicado em 05/09/2015 às 9:50
Entre os que seriam convocados estavam Eike Batista, do grupo EBX, e Joeslley e Wesley Batista, da JBS Foto: Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil


A votação de requerimentos para convocar empresários para depor na CPI do BNDES, prevista para ocorrer na última quarta (2), foi cancelada após interferência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmaram deputados.

Conforme a reportagem apurou, na noite de terça (1º), Cunha reuniu-se separadamente com membros da CPI logo após deputados da base e da oposição firmarem um acordo para convocar grandes empresários beneficiários de empréstimos do banco de fomento.

Cunha sempre negou interferir nas CPIs da Casa. Questionado, confirmou ter se reunido com deputados da CPI do BNDES, mas disse ter tratado de outro assunto.

"Eles me procuraram foi para contratar assessoria da Fundação Getúlio Vargas para poder ajudar na CPI. Comigo, a única coisa que foi tratada pela CPI, pelo presidente da CPI, foi essa contratação", afirmou.

Entre os que seriam convocados estavam Eike Batista, do grupo EBX, e Joeslley e Wesley Batista, da JBS -frigorífico que se tornou um dos maiores do mundo após investimentos do BNDES e é um dos principais financiadores de campanhas de políticos para o Legislativo e para o Executivo.

Somente ao comitê financeiro único do PMDB do Rio, por exemplo, a JBS doou R$ 21 milhões 30% do total arrecadado pelo partido de Cunha.

A CPI, instalada após o presidente da Câmara romper com o governo, tem o objetivo de investigar empréstimos do BNDES concedidos de 2003 a 2015, nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Os principais cargos de comando estão nas mãos da oposição e de aliados de Cunha.

Cinco membros da CPI, ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, disseram que Cunha interveio para evitar as convocações dos empresários. Do acordo inicial para ouvi-los na CPI haviam participado parlamentares do PT, do PMDB e do PSDB.

Logo após as conversas de deputados com Cunha, o presidente da CPI, Marcos Rotta (PMDB-AM), confirmou que as convocações não seriam mais apreciadas.

"[O acordo] Não foi levado à frente. Os próprios partidos o dissolveram", disse. "Recebi a informação da minha assessoria, mas não vi como foi a dissolução."

Com isso, a sessão desta quarta deliberou somente sobre requerimentos de documentos, menos polêmicos. Durante a sessão, vários deputados usaram o microfone para negar terem desfeito o acordo inicial -mas não se opuseram veementemente à mudança da pauta.

REAÇÕES

A influência de Cunha na CPI pautou a sessão da quarta-feira. "Está parecendo que toda grande decisão que se tome aqui tem que consultar o presidente Eduardo Cunha. Isso é absolutamente impertinente para uma Comissão Parlamentar de Inquérito", criticou Arnaldo Jordy (PPS-PA), dirigindo-se ao presidente da CPI.

"Tenho o presidente Eduardo Cunha como uma das pessoas mais inteligentes e preparadas com quem tenho o privilégio de conviver. Como pessoa preparada, eu não tenho dúvida de que ele sabe que nós, para podermos funcionar, precisamos de autonomia. Em nenhum momento recebemos qualquer orientação, sugestão ou veto para que não pudéssemos deliberar", respondeu Rotta.

"Penso que o momento oportuno haverá de ser dado para as convocações. De minha parte, não existe, não existiu nem existirá blindagem", completou.

Os membros do PSDB negaram, em nota, ter participado de qualquer acordo. "O PSDB foi um dos partidos que assinaram o requerimento para a criação desta CPI e tem se empenhado na sua tarefa de fiscalizar o uso dos recursos públicos, o que, nesta comissão, não será diferente", diz o texto.

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