Agência de risco diz não contar com CPMF e aguarda plano B do Brasil

O governo chegou a apresentar a Cide (imposto sobre combustíveis) como plano B
Da Folhapress
Publicado em 16/10/2015 às 17:15
O governo chegou a apresentar a Cide (imposto sobre combustíveis) como plano B Foto: Foto: Marcos SantosUSP Imagens


Um dia depois de a agência Fitch rebaixar a nota do Brasil ao limite do grau de investimento, a diretora de classificação de risco Shelly Shetty disse que não espera a aprovação da volta da CPMF e aguarda propostas alternativas do governo para avaliar um eventual rebaixamento do país a grau especulativo.

"Não incorporamos a aprovação em nosso cenário-base, devido à resistência ao imposto [no Congresso]. O que olhamos é qual resposta o governo poderia dar ao veto da CPMF, que é muito importante para a receita esperada para 2016", disse Shetty em entrevista a jornalistas, nesta sexta-feira (16).

O governo chegou a apresentar a Cide (imposto sobre combustíveis) como plano B, mas prefere o "imposto do cheque", porque traria impacto menor à economia. A equipe da presidente Dilma Rousseff teme que a Cide eleve ainda mais a inflação.

Shetty disse que o foco é ver como o governo se mostra capaz de dar estabilidade ao país e que medidas serão apresentadas para 2016.

Um dos mitigadores, afirmou a analista, são as reservas internacionais do país, que somam US$ 373 bilhões, e as intervenções do Banco Central para evitar depreciação ainda mais elevada do real frente ao dólar.

"O BC mostrou cautela e precaução intervindo sem usar as reservas. Contamos com a manutenção dessa estratégia em nossas previsões", afirmou.

O Banco Central acumula perda de R$ 108 bilhões com sua atuação para tentar conter a alta do dólar e a fuga de recursos do país por meio do swap cambial.

Com o instrumento, o BC compensa o investidor pela variação do dólar no período. Em troca, o comprador paga juros sobre o valor do contrato.

 

IMPEACHMENT

Shetty reforçou a posição da agência segundo a qual o impeachment da presidente Dilma poderia trazer mais instabilidade para o Brasil. A saída de Dilma do poder não está no cenário-base da agência.

"Teríamos que observar como o Brasil emergiria, porque o cenário pode potencialmente ficar pior durante o processo e os desafios aumentarem para um eventual novo governo", afirmou. "Tudo o que posso dizer é que a incerteza sobre o processo, em si, tem implicações negativas."

Shetty disse que a eventual tramitação do impeachment no Congresso atrasaria a votação de medidas do ajuste fiscal.

Questionada sobre uma eventual saída do ministro Joaquim Levy (Fazenda) do governo e sobre críticas do ex-presidente Lula ao ajuste fiscal, a analista disse que é um "problema se não há consenso sobre a necessidade" de medidas de austeridade.

"Levy tem tido um papel importante no processo do ajuste e tem credibilidade. Ao mesmo tempo, as classificações em geral focam o desempenho econômico. Se Levy sair, olharemos o que isso significaria em termos de mudança da atual orientação política."

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