O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (4) que a condução coercitiva à qual foi submetido no período da manhã pela Polícia Federal foi "o que precisava acontecer para o PT levantar a cabeça", embora tenha dito estar "magoado e ofendido" com a medida, que considerou fruto de "prepotência" dos investigadores da Operação Lava Jato. O petista também fez uma série de críticas à imprensa e a veículos de comunicação e disse merecer "respeito" como ex-presidente. Lula acrescentou que, com a condução coercitiva da Operação Aletheia, tentaram "matar a jararaca, mas não acertaram na cabeça, acertaram no rabo".
"Eu fiquei magoado, ofendido, me senti ultrajado, mas isso era o que precisava acontecer para o PT levantar a cabeça. Todo santo dia alguém faz o partido sangrar. A partir da semana que vem, quem quiser discurso do Lula, é só pagar a passagem de avião. Não sei se serei candidato em 2018, mas essas coisas aumentam o tesão da gente. Tentaram matar a jararaca, mas não acertaram na cabeça, acertaram no rabo. A jararaca está viva", disse Lula em entrevista coletiva concedida na sede PT, em São Paulo.
O petista disse que não se recusou a prestar depoimento espontaneamente em três vezes anteriores e que a operação Lava Jato preferiu "lamentavelmente usar a prepotência". O petista citou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância e autorizou a condução coercitiva de Lula. "O Moro não precisava ter mandado uma coerção na minha casa de manhã, na casa do Delcídio, do Paulo Okamotto, não precisava. Era só ter convidado. Eu iria em Curitiba, iria a Brasília, era só ter chamado."
Ele reiterou não ter ligação com qualquer irregularidade. "Se encontrarem um real de desvio no meu bolso, eu não mereço estar neste partido", afirmou.
O ex-presidente também pediu desculpas à mulher, Marisa Letícia, que não foi alvo de mandado de condução coercitiva, à família e aos amigos e assessores que foram envolvidos na operação desta sexta. "Virou uma coisa perigosa hoje ser amigo do Lula", ironizou.
No discurso, transmitido por sites aliados do PT, o ex-presidente criticou a imprensa pelo que considera um "espetáculo midiático" e disse que "hoje quem condena as pessoas são as manchetes". "Estou indignado com esse processo de suspeição", disse.
Ele voltou a afirmar que não é dono do tríplex no Guarujá investigado pela operação e ironizou, dizendo que queria saber quem iria dar a ele um apartamento no final do processo. "Se eu não comprei e não paguei, o apartamento não é meu", afirmou.
O petista também disse que o sítio em Atibaia pertence ao filho do compadre Jacó Bittar, a quem conhece a 35 anos, e ironizou as suspeitas dizendo que usa o sítio do amigo porque nenhum inimigo oferece uma alternativa. Ele mostrou irritação ao falar de suspeitas de irregularidades na compra de um barco de R$ 4 mil e de pedalinhos.
Ele citou ainda a dificuldade de armazenar os presentes que ganhou durante a Presidência após deixar a residência oficial. "Vocês sabem o que é sair com 11 contêineres da Presidência sem saber onde pôr?", questionou. Os amigos têm dito que compraram o sítio para que suas famílias pudessem desfrutar e para que Lula pudesse ganhar os presentes que ganhou do povo brasileiro. A força-tarefa da Lava Jato diz que a OAS pagou um guarda móveis para os pertences.
Lula também tentou afastar suspeitas de que as doações de empreiteiras ao seu instituto ou as palestras contratadas tenham relação com desvios investigados pela Lava Jato. "As empresas que me contrataram não trabalham apenas com a Petrobras", afirmou. A operação apontou repasses de R$ 30 milhões ao instituto e à LILS Palestras por parte das principais empreiteiras investigadas pela operação (Odebrecht, OAS, UTC, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Correa). O ex-presidente disse que, pelos méritos de seu governo, se tornou um dos palestrantes mais bem pagos do mundo, junto com o ex-presidente americano Bill Clinton. "Pessoas se preocupam comigo mas não questionam que a CNI (Confederação Nacional da Indústria) pagou R$ 1 milhão para Bill Clinton", afirmou.
No discurso, interrompido várias vezes por palmas de militantes e dirigentes do PT, Lula também disse que Dilma Rousseff está sendo cerceada no poder e precisa de autonomia para governar o Brasil. "Sou um homem que acredito em instituições de Estado fortes", disse.