Brasil para contra corrupção, PT, Lula e Dilma

Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em 24 Estados e mais de 400 cidades do País
Da AFP
Publicado em 13/03/2016 às 19:00
Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em 24 Estados e mais de 400 cidades do País Foto: Em São Paulo, mais de 450 mil foram ás ruas


Uma onda de manifestantes em todo o Brasil pediam neste domingo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em meio a um clima de forte descontentamento social pela recessão econômica e o megaescândalo da Petrobras envolvendo a elite política e empresarial do País. 

Espera-se que até o fim do dia, mais de um milhão de brasileiros tenham ido às ruas para manifestar sua revolta em 24 Estados e mais de 400 cidades, custodiadas por uma grande operação policial, durante um dia de protestos pela primeira vez apoiados explicitamente por partidos da oposição. No Recife, numa manifestação considerada pacífica, 120 mil pessoas foram às ruas, segundo a PM. Organizadores, no entanto, falaram em 150 mil pessoas. No Marco Zero, um ato em defesa do PT e do governo reuniu apenas 100 pessoas, também de acordo com a PM.

    A magnitude das manifestações é um dado altamente sensível para a presidente, ameaçada por um processo de julgamento político que poderia por um fim antecipadamente ao seu mandato, previsto até 2018, e também para que os buscam um combustível para o  processo que tramita no Congresso. "Estamos na rua porque não aguentamos mais este governo. Senhores deputados, senhores senadores, exigimos o impeachment de Dilma", disse Rodrigo Chequer, líder do grupo Vem pra Rua, um dos organizadores das manifestações, do alto de um carro de som.

    Em São Paulo os manifestantes começaram a se reunir cedo para a passeata no centro financeiro da cidade.  A capital econômica e industrial do país foi o centro dos protestos contra o governo no ano passado e ali que apareceram líderes opositores como o senador Aécio Neves, derrotado por Dilma nas eleições de 2014. Aécio, o governador Geraldo Alckmin e outros líderes da oposição também foram hostlizados na Avenida Paulista. Trata-se de uma demonstração clara que a classe política no Brasil nunca esteve tão desgastada.

 "Vim porque estou cansada de ver tanta corrupção e para reclamar contra a desordem em que se transformou este País. Chega de roubo, chega", declarou Rosilene Feitosa, aposentada de 61 anos, enquanto participava da passeata em São Paulo.  "Eu votei no PT, mas, agora, nunca mais", acrescentou.

   Imagens aéreas mostravam neste domingo uma maré de gente vestindo verde e amarelo, uma cena que se repetiu na capital federal - com participação oficial de cem mil pessoas - e no Rio de Janeiro, que reuniu centenas de milhares de pessoas em  Copacabana.

    No Rio, sede dos Jogos Olímpicos em agosto, a polícia não faz estimativas das passeatas e os organizadores estimam que entre 700 mil e um milhão de pessoas tenham participado da marcha pacífica em Copacabana.

    Grandes centros urbanos, como Belo Horizonte, e inclusive redutos tradicionais do PT, como os Estados da Bahia e de Pernambuco, também tiveram grandes convocações e grande adesão.

   A possibilidade de haver confrontos entre os manifestantes pró-impeachment e militantes do PT levou a presidente Dilma a fazer durante a semana um apelo para que se evite a violência.

 MOMENTO DELICADO

  Em meio a menções alusivas ao "fim do ciclo" após mais de 13 anos de governo do PT, os manifestantes se queixavam da crise econômica, que recuou 3,8% em 2015 e continuaria caindo este ano caminhando para a pior recessão em um século, e as  escandalosas descobertas das investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras, de onde foram desviados recursos bilionários, destinados a partidos que integram a base do governo.

    "Caiu Cristina, o Congresso na Venezuela mudou, Evo perdeu, quem cairá agora? Dilma", gritou um dos organizadores do protesto em São Paulo em um carro de som, em alusão ao fim do mandato da presidente Cristina Kirchner na Argentina e às derrotas sofridas pelo governo socialista nas legislativas na Venezuela e do chefe de Estado boliviano, Evo Morales, em um referendo que negou-lhe a possibilidade de se eleger para um quarto mandato.  Em São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, cerca de 300 pessoas também se manifestaram diante do apartamento de Lula, em apoio ao ex-presidente, que retribuiu à saudação, saiu, tirou fotos com simpatizantes, e voltou para casa, segundo um fotógrafo da AFP.

    Um avião de propaganda que sobrevoou as praias do Rio exibindo uma faixa com a inscrição "Não vai ter golpe" foi vaiada pela multidão.  Pouco depois, uma lancha navegou em frente à praia com uma bandeira que dizia "Fora Dilma".    "Estou me manifestando porque acho que apenas assim poderemos frear o desperdício das riquezas do país", afirma Marcelo Antunes, engenheiro de 66 anos. "Todos os brasileiros devem participar, não podemos ficar à parte", acrescentou.

    JUIZ HERÓI   

    Em Brasília, manifestantes contrários ao governo levaram o Pixuleco, o gigantesco boneco inflável representando o ex-presidente Lula vestido de presidiário.   A multidão que ocupou a esplanada central que leva ao Congresso saudava o juiz federal Sérgio Moro, cujas sentenças resultaram na prisão de vários empresários e políticos da elite do país envolvidos no 'Petrolão'.

Moro se transformou em um símbolo da luta contra a corrupção no Estado, um mal que, juntamente com o desemprego crescente e uma inflação em ascensão que levou o país a uma espiral de desânimo que atingiu a própria coalizão do governo.  No sábado, o grande aliado do PT, o PMDB, realizou um congresso para avaliar sua aliança com o governo. Ficou decidido que o partido debaterá durante 30 dias se abandona ou não Dilma a sua própria sorte.

    A convenção do partido do vice-presidente Michel Temer, do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, transcorreu em um clima de oposição que pode beneficiar a ideia do impeachment. Em plena tempestade política, a presidente Dilma descartou, na sexta-feira, a possibilidade de renunciar ao cargo, afirmando que faltam argumentos a quem defende seu impedimento. 

 

 

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