Em delação premiada homologada nesta terça-feira (15) pelo Supremo Tribunal Federal, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou que a CPI do Carf é um tema que aflige o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já o procurou para tentar evitar a convocação de Mauro Marcondes e da esposa do lobista, Cristina Mautoni. O casal está preso preventivamente e é réu na Operação Zelotes, que investiga a compra de medidas provisórias durante os governos Lula e Dilma. Investigadores também apuram o pagamento de R$ 2,5 milhões feito pela consultoria de Marcondes à empresa de um dos filhos de Lula.
O senador prometeu a Lula "mobilizar uma tropa" para resolver a questão da convocação do casal na CPI do Carf e reuniu-se com líderes da base do governo. Ele disse ainda que requerimentos de "alta periculosidade e sensíveis a Lula, a exemplo da convocação de seus filhos", foram derrubados na CPI do Carf em novembro após mobilização articulada por ele com líderes da base.
Segundo Delcídio, Lula dizia estar muito preocupado com o casal. Em setembro de 2015, o ex-presidente pediu uma conversa privada em um hangar no aeroporto de Brasília no qual ficou claro, segundo Delcídio, que Lula queria evitar a convocação dos dois. "Que soube o depoente que Lula e Mauro Marcondes são próximos e amigos há bastante tempo, supondo que desde o tempo em que Lula era metalúrgico (...) Que Mauro Marcondes também atuou em edições de medidas provisórias voltadas a conceder benefícios para o setor automobilístico", consta no termo de colaboração do senador. O suposto pagamento de propinas a agentes públicos para viabilizar as medidas provisórias foi revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo em outubro.
Delcídio disse ainda que Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, "tinha a obrigação de atuar" a propósito da edição de medidas provisórias, em razão de sua função. Também era considerado um "requerimento grave" a convocação de Erenice para depor. Segundo Delcídio, a ex-ministra defende interesses privados em diversos órgãos públicos.
Após narrar a derrubada do depoimento de requerimentos sensíveis ao governo, Delcídio disse a procuradores da operação Lava Jato ter ciência de que não adotou uma "atitude republicana, mas, mesmo assim, atuou como líder do governo". Ele sugeriu em seu depoimento que o pedido de Lula "poderia parecer um pedido do próprio governo federal para a derrubada das convocações". Ele nega, no entanto, ter conversado com a presidente Dilma Rousseff a respeito, embora tenha dito saber que "o resultado no âmbito da CPI do Carf agradou ao governo federal".
Confira na integra a delação de Delcídio do Amaral:
http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2016/03/15/confira-na-integra-a-delacao-premiada-do-senador-delcidio-amaral/