Janot pede que 'paixões das ruas' não devem afetar Procuradoria

Num apelo ao grupo, falou que os procuradores devem se manter alheios aos interesses partidários
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 23/03/2016 às 10:30
Num apelo ao grupo, falou que os procuradores devem se manter alheios aos interesses partidários Foto: Foto: Agência Brasil


Em mensagem interna encaminhada a procuradores, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu que os integrantes do Ministério Público atuem de forma "técnica e serena" para atravessar o que chamou de "crise aguda e grave". Janot falou em manter a unidade, evitar a radicalização e não se contaminar por "paixões das ruas". Num apelo ao grupo, falou que os procuradores devem se manter alheios aos interesses partidários.

"Não podemos permitir que as paixões das ruas encontrem guarida entre as nossas hostes. Somos Ministério Público. A sociedade favoreceu-nos, na Constituição, com as prerrogativas necessárias para nos mantermos alheios aos interesses da política partidária e até para a defendermos de seus desatinos em certas ocasiões. Se não compreendermos isso, estaremos não só insuflando os sentimentos desordenados que fermentam as paixões do povo, como também traindo a nossa missão e a nossa própria essência", escreveu o procurador-geral da República.

Janot é responsável pela investigação e acusação de políticos com foro privilegiado envolvidos na Operação Lava Jato. Com mais de 32 investigações abertas perante o Supremo Tribunal Federal (STF), seis denúncias oferecidas e uma ação penal aberta, Janot já foi alvo de críticas e se tornou desafeto do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"O Ministério Público não tem ideologia nem partido, de modo que nosso único guia deve encontrar-se no texto da Constituição da República e nas leis", escreveu Janot na carta.

A manifestação aos procuradores é feita no momento em que as investigações da Lava Jato impulsionam manifestações sociais e movimentos políticos. Na semana passada, após a divulgação de áudios interceptados que sugerem que a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil foi uma tentativa de blindá-lo de uma investigação, parte da população foi às ruas contra a ida do petista ao ministério.

Sem menções a nomes, ele fala na carta em "apagar o brilho personalista da vaidade para fazer brilhar o valor do coletivo". Nos bastidores da alta cúpula do Judiciário, a decisão de Moro de divulgar os áudios interceptados é alvo de questionamentos. Janot fala ainda em manter a unidade sem "sem cizânias personalistas ou arroubos das idiossincrasias individuais".

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