Uma testemunha ouvida pela Polícia Federal no dia 1 de abril, quando foi deflagrada a 27ª fase da Lava Jato, a Carbono 14 que pegou o empresário de Santo André Ronan Maria Pinto, citado no polêmico episódio da morte do ex-prefeito Celso Daniel, em 2002, reacendeu o episódio da morte do legista do caso Carlos Delmonte Printes que apontou na época que o ex-prefeito teria sido torturado.
Delmonte foi encontrado morto em outubro de 2006, e, segundo concluiu a Polícia Civil na época, teria cometido suicídio.
O cirurgião dentista Glacio Avolio, que conhecia o legista há muito tempo e lecionou com ele em um curso na capital paulista desde 1977, revelou aos investigadores da Lava Jato que na época das investigações da morte de Celso Daniel o legista teria confidenciado a ele que "sofria muitas pressões para mudar o depoimento prestado à Polícia Civil de São Paulo".
Na época, o legista apontou em seu laudo que o ex-prefeito havia sido torturado antes de morrer e, segundo o relato de Glacio, Printes estava sendo pressionado para afirmar que o caso foi um crime comum.
"Carlos não mudou seu depoimento e ainda confidenciou que havia sofrido um atentado na Avenida Vinte e Três de Maio, na madrugada, cuja data não lhe disse, na qual uma caminhonete cabine dupla com vidros escuros tentou jogá-lo para fora da avenida por duas vezes", disse Glácio em depoimento prestado espontaneamente à Polícia Federal em São Paulo e que foi encaminhado à Lava Jato.
No depoimento, contudo, Glácio disse que o legista não o revelou quem o estava ameaçando, mas disse que "eles do PT estão com medo que isso suba a rampa do Planalto", afirmou Glacio. Naquele período, Lula era o presidente da República.
Delmonte chegou a vir a público dizer que o assassinato de Celso Daniel tinha indícios que apontavam para queima de arquivo.
Na Carbono 14 a Lava Jato avançou sobre Ronan Maria Pinto e o denunciou sob a acusação de receber R$ 6 milhões do PT para comprar o jornal Diário do Grande ABC, que na época cobria o caso implicando Ronan na morte de Celso Daniel.
Apesar de denunciar vários dos envolvidos no polêmico episódio, a Lava Jato não reabriu o caso da morte do ex-prefeito e nem acusa Ronan Maria Pinto de chantagear o partido por, supostamente, ter informações sobre o caso que poderiam implicar o ex-presidente Lula e outros nomes do PT, como disse o operador do mensalão Marcos Valério em depoimento à Procuradoria da República em 2012.
A reportagem encaminhou e-mail para a assessoria do PT na noite desta terça-feira (10), mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para a manifestação do partido.