Haddad recua e diz que impeachment de Dilma é 'golpe brando'

Haddad lamentou a falta de espaço para discutir aspectos filosóficos do processo de impeachment
Estadão Conteúdo
Publicado em 15/08/2016 às 22:53
Haddad lamentou a falta de espaço para discutir aspectos filosóficos do processo de impeachment Foto: Foto: Fotos Públicas


Após dizer em entrevista ao vivo à TV Estadão que "golpe" é uma palavra "um pouco dura" para qualificar o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e dia depois ser contrariado publicamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT), mudou seu discurso e passou a usar expressões que adjetivam o termo golpe, como "golpe velado", "golpe brando" e "golpe encoberto". As três expressões foram usadas pelo prefeito nesta segunda-feira (15) durante agenda pública no Tatuapé, na zona leste da capital.

"Apesar de ser uma palavra dura, que remete a uma situação de força, você tem uma quebra de ordem constitucional porque não há crime de responsabilidade apurado contra a presidente Dilma. Os especialistas usam a palavra golpe encoberto, qualificam a palavra. Golpe velado, golpe encoberto, golpe brando", afirmou. "É assim que a literatura internacional tem tratado os golpes recentes no mundo que seguem ritos legais que dão a impressão de normalidade democrática. A literatura internacional tem usado essas expressões, com as quais concordo".

Haddad, que é professor doutor em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), lamentou a falta de espaço para discutir aspectos filosóficos do processo de impeachment e citou na coletiva um dos especialistas de "literatura internacional". "O Noam Chosmky (filósofo, linguista e ativista político americano), por exemplo, que é um autor que eu admiro, usa a expressão 'soft coup' (em português, golpe brando) para falar desse tipo de ação. É muito comum hoje na literatura. É que, infelizmente, estamos tendo pouco espaço para discutir a literatura de ciência política e filosofia política", disse.

O prefeito disse que a expressão "soft coup" não é nova, está "quase consolidada" na literatura internacional e também circula em textos de língua portuguesa. "Embora a maioria dos textos seja em língua estrangeira, já existem vários textos circulando em português qualificando e distinguindo os golpes contemporâneos dos golpes dos anos 60 e 70, que eram golpes com outras características. Por isso que se agrega um adjetivo à palavra para dar a dimensão do tipo de fenômeno que está sendo mais frequente hoje."

Questionado se a situação política do Brasil pode ser comparada à de outros países, Haddad não respondeu e sugeriu que a reportagem fizesse uma pesquisa na literatura internacional. Em maio, em entrevista ao programa de notícias norte-americano 'Democracy Now', Chomsky usou o termo "golpe brando". No debate, Chomsky citou os processos políticos de tentativas de destituição presidencial dos últimos 15 anos em países da América Latina, como Venezuela (2002), Haiti (2004), Honduras (2009) e Paraguai.

Desconforto

Na semana passada, dois dias depois de dizer em entrevista ao Estado que a palavra "golpe" é "um pouco dura", Haddad participou de uma plenária em Guaianases com Lula, que marcou o início da campanha petista na capital. "Acabamos de ver 342 deputados em Brasília darem um golpe no voto de vocês. Tem que levar em conta que o golpe na Dilma foi um golpe na mulher brasileira", disse Lula ao lado de Haddad, que, momentos antes, havia remodelado seu discurso ao fazer referência ao "golpe contra a democracia".

No dia seguinte à plenária com Lula, o prefeito participou de um evento político no Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP) onde voltou a falar em "golpe". O debate ocorreu no sábado, 13. Diferentemente do que respondeu ao Estado, Haddad afirmou que "é golpe porque estão descumprindo a Constituição em um quesito básico". Um vídeo de 40 segundos com a declaração do prefeito durante o evento foi postado no início da tarde desta segunda, 15, na página de uma rede social do candidato a vereador e ex-secretário de Haddad, Nabil Bonduki (PT).

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