O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura do inquérito contra a presidente afastada, Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dois ex-ministros do governo da petista: Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo. Também são investigados no inquérito o presidente do Superior Tribunal Justiça (STJ), Francisco Falcão, e o ministro do mesmo tribunal, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas; além do ex-senador Delcídio Amaral.
A abertura do inquérito contra os sete investigados ocorreu nesta segunda-feira (15) e foi confirmada pela assessoria do Supremo. A PGR quer investigar suposta tentativa de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. O pedido de investigação foi encaminhado ao STF em maio.
Para os investigadores, a nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil fazia parte de um "cenário" em que foram identificadas diversas tentativas de atrapalhar o andamento da Operação Lava Jato.
A PGR usou no pedido de abertura de inquérito também trechos da delação premiada do ex-senador Delcídio Amaral. Nos depoimentos, o ex-parlamentar e ex-líder do governo relatou que Dilma tentou interferir nas investigações da Lava Jato por meio do Judiciário
Delcídio citou uma suposta investida do Planalto para influir na operação por meio da indicação do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro Ribeiro Dantas. A suposta indicação de Dantas teria como objetivo liberar executivos da prisão. O ex-senador também citou o envolvimento do presidente do STJ, Francisco Falcão, no acerto pela indicação de Navarro.
Também foi Delcídio quem envolveu Mercadante e Cardozo no "cenário" vislumbrado pelos procuradores. Ele mencionou um encontro de Cardozo com o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, em Portugal, no intuito de falar sobre mudanças nos rumos da operação. Sobre Mercadante, o parlamentar afirmou que o ex-ministro da Educação ofereceu dinheiro para evitar um acordo de colaboração premiada.
A assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que "a abertura do inquérito é importante para elucidar os fatos e esclarecer que em nenhum momento houve obstrução de Justiça. A verdade irá prevalecer".
A defesa do ex-presidente Lula afirmou que o petista "jamais praticou qualquer ato que possa configurar crime de obstrução à Justiça". "Lula não se opõe a qualquer investigação, desde que observado o devido processo legal e as garantias fundamentais. Se o procurador-geral da República pretende investigar o ex-presidente pelo teor de conversas telefônicas interceptadas, deveria, também, por isonomia, tomar providências em relação à atuação do juiz da Lava Jato que deu publicidade a essas interceptações - já que a lei considera, em tese, criminosa essa conduta", escrevem em nota os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.
A defesa do ex-ministro José Eduardo Cardozo também destacou que será uma oportunidade para esclarecer os fatos. "Respeitamos a decisão do STF e contribuiremos com as investigações, será uma boa oportunidade para esclarecer definitivamente tais fatos", afirmou em nota o advogado Pierpaolo Bottini.
Já a assessoria do ex-ministro Mercadante afirmou que a abertura do inquérito servirá para demonstrar que não houve tentativa de obstrução de justiça. "A decisão do Supremo Tribunal Federal de abertura de inquérito será uma oportunidade para o ex-ministro, Aloizio Mercadante, demonstrar que sua atitude foi de solidariedade e que não houve qualquer tentativa de obstrução da justiça ou de impedimento da delação do então senador Delcidio do Amaral."
A assessoria do STJ não irá se manifestar. Procurado, o advogado de Delcídio Amaral afirmou que não vai se manifestar.