Começa o ato final do julgamento de impeachment de Dilma Rousseff

Na quinta-feira (25), o Senado brasileiro inicia o julgamento que decidirá o destino político de Dilma
AFP
Publicado em 23/08/2016 às 8:41
Na quinta-feira (25), o Senado brasileiro inicia o julgamento que decidirá o destino político de Dilma Foto: Foto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP


Os Jogos Olímpicos ficaram para trás e o Brasil se prepara para viver nos próximos dias um acontecimento que definirá seu futuro: o capítulo final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, cuja destituição parece irreversível.

Na quinta-feira, dia 25, às 9h da manhã, o Senado brasileiro iniciará o julgamento que decidirá o destino político de Dilma e o ciclo de quatro governos consecutivos do PT.

Segundo o cronograma, a primeira mulher a chegar à presidência brasileira ouvirá a sentença por volta de 31 de agosto. Se for considerada culpada de violar a Constituição ao aprovar gastos ignorando o Congresso e maquiar as contas públicas, perderá seu cargo e ficará inelegível por oito anos.

Se for absolvida, recuperará seu governo e poderá concluir os dois anos e quatro meses que lhe restam de mandato.

Segundo todas as pesquisas realizadas no Senado, Dilma, 68 anos, não voltará a ocupar o Palácio do Planalto.

Os dados indicam que seus opositores conseguirão entre 58 e 60 votos, superando a maioria necessária de 54, dois terços do total, para derrubá-la.

Mas antes do ato final, o mundo político terá de segurar a respiração no dia 29, segunda-feira, quando a própria Dilma se pronunciará durante meia hora ante os 81 senadores para tentar convencê-los de sua inocência.

"Vou argumentar não apenas a favor da democracia, do respeito ao voto direto do povo brasileiro, como também a favor da Justiça", afirmou, em um encontro recente com correspondentes estrangeiros.

Cara a cara

Dirigida pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, essa audiência colocará Dilma cara a cara com os senadores que criticam seu governo.

"Será a última oportunidade que ela terá para se defender. Da nossa parte, haverá uma postura de respeito (...) Dependerá também da postura que a presidente apresentar. Se for agressiva e provocadora, haverá reações", afirmou à AFP o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, favorável ao impeachment e integrante da coalizão de governo interino.

"Dentro de duas semanas teremos um novo presidente", enfatizou.

Depois de ter sido suspensa do cargo em 12 de maio, Dilma foi substituída por seu vice, Michel Temer, 75 anos, do PMDB, que decidiu abandonar a coalizão que formava com o PT para comandar o movimento para afastar sua ex-aliada.

Dilma insiste na tecla de que foi vítima de um golpe parlamentar, que uma maioria circunstancial quer substituir os 54 milhões de brasileiros que votaram nela.

Novas caras, a mesma crise

Isolada mesmo dentro de seu partido, com sua popularidade de apenas um dígito e a economia em sua maior recessão em quase um século, Dilma perdeu a conexão total com o Congresso, e o PT é bombardeado por uma série de escândalos ligados a desvios de fundos da Petrobras para financiar campanhas.

Sequer seu padrinho político e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva está livre das suspeitas de corrupção, e é acusado de obstruir a Justiça em relação ao Petrolão. Ao longo dos 18 meses, milhões de brasileiros foram às ruas para pedir a saída de Dilma.

Se ela for afastada, Temer assumirá a presidência até o final do mandato, em 2018, e o fará cercado por problemas similares aos que causaram a erosão política de sua ex-companheira de chapa: alta impopularidade, um partido acusado de corrupção e obrigado a tomar medidas amargas ante uma sociedade farta da crise.

A maior economia latino-americana sofreu uma contração de 3,8% em 2015 e projeta um crescimento negativo de 3,1% este ano. Inflação, desemprego recorde, déficit fiscal de mais de 45 bilhões de dólares completam o quadro dramático brasileiro.

Figura proeminente durante boa parte dos mais de 13 anos de PT no poder, quando mais de 30 milhões de pessoas saíram da pobreza, Dilma Rousseff espera pelo julgamento reclusa na residência presidencial e promete que, se escapar do impeachment, convocará um referendo para que a cidadania decida se é preciso antecipar as eleições.

E não pensa na derrota.

"Se a pessoa está convicta de uma coisa, deve lutar por ela. Se ficar se questionando se vai conseguir ou não, começa a perder", declarou na semana passada, em uma demonstração de sua personalidade, que, para seus seguidores, destila firmeza, enquanto que, para seus críticos, é um exemplo de falta de jogo de cintura política.

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