IMPEACHMENT

Após impeachment, a crise política continua no Brasil

Reação dura de Dilma, que denuncia ''golpe de Estado parlamentar'' e promete uma oposição incansável ao governo Temer, ilustra que o dia histórico não pode ser considerado o fim da história

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Publicado em 01/09/2016 às 7:07
Foto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP
Reação dura de Dilma, que denuncia ''golpe de Estado parlamentar'' e promete uma oposição incansável ao governo Temer, ilustra que o dia histórico não pode ser considerado o fim da história - FOTO: Foto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP
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O afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência do Brasil na quarta-feira (31) foi o clímax dramático e aguardado durante muitos meses de uma árdua luta pelo poder que, no entanto, não resolve a crise política do país.

A reação dura da agora ex-presidente, que denuncia um "golpe de Estado parlamentar" e promete uma oposição incansável ao governo de Michel Temer, ilustra claramente que o dia histórico não pode ser considerado o fim da história.

Este foi apenas o último episódio da primeira temporada de uma série política que não terminará antes das próximas eleições presidenciais e legislativas de 2018.

Mas qual o roteiro reservado para os próximos episódios?

- Dilma Rousseff, o retorno? -

Heroína guerreira - e derrotada - da primeira temporada, a protagonista Dilma Rousseff parecia condenada a desaparecer do elenco após o impeachment, rumo a uma aposentadoria aos 68 anos.

Mas em uma reviravolta, os mesmos senadores que decidiram afastá-la do poder por uma contundente maioria não retiraram seus direitos políticos, suavizando o que a própria Dilma havia denunciado antes como uma "condenação à morte política".

Ela poderá, portanto, ser candidata a cargos como o de deputada ou senadora em 2018. Mas não à presidência por ter alcançado o limite de dois mandatos consecutivos.

"Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer até daqui a pouco", declarou na quarta-feira.

- Temer, o novo homem frágil -

O discreto, e na aparência inofensivo, vice-presidente de Dilma Rousseff saiu como o grande vencedor da primeira etapa da crise.

Temer esperou o pior momento de isolamento e fragilidade política daquela que foi sua companheira de chapa duas vezes para precipitar sua queda no fim de março e herdar, de bandeja, a presidência até 2018.

Mas sua vitória pode ser de curto alcance por suas próprias fragilidades.

Sua legitimidade, formalmente indiscutível no plano constitucional, está muito fragilizada por sua polêmica chegada ao poder e pelos termos "traidor", "conspirador" e "golpista" repetidos por Dilma Rousseff.

Tanto que Michel Temer, um político dos bastidores, relativamente desconhecido pelos brasileiros, é tão impopular quanto a ex-presidente.

Além disso, o escândalo de corrupção na Petrobras e seus devastadores desdobramentos também atingiram seu partido, o PMDB.

Temer foi citado por vários acusados, sem consequências judiciais até o momento.

- Dois anos para triunfar - 

No complexo contexto, Michel Temer reconheceu na quarta-feira ter apenas dois anos ajustar um país que enfrenta a mais grave recessão econômica em décadas.

"Vai ser difícil", admitiu, ao estabelecer como prioridade a redução do desemprego, que afeta a 11,8 milhões de brasileiros.

No momento, ele conta com uma maioria bastante sólida no Congresso, além da boa recepção dos mercados.

Temer prometeu um severo ajuste do orçamento e impopulares reformas da previdência e dos direitos trabalhistas.

Mas, para fazer com que os brasileiros aceitem o remédio amargo ele conseguirá manter a coesão de uma coalizão parlamentar circunstancial, construída com o objetivo comum de derrubar Dilma Rousseff?

A missão é complexa, levando em consideração que o PMDB pretende ter um candidato à eleição presidencial de 2018, o que não acontece desde 1994.

Para tentar acalmar os novos aliados do PSDB, rival histórico do PT, Temer afirmou que não pensa em disputar a reeleição.

Depois de quatro derrotas consecutivas em eleições presidenciais para o PT, o PSDB sonha com a vitória em 2018 e não cogita ser superado pelo PMDB de Temer.

- Reconstrução à esquerda -

Na esquerda, desgastado e fragilizado por 13 anos de poder e vários escândalos de corrupção, o PT de Rousseff e seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não pode sonhar com 2018.

No momento, o Partido dos Trabalhadores está concentrado em assegurar sua sobrevivência. E isto passa por tentar limitar os danos nas eleições municipais de outubro, onde muitos apontam a possibilidade de uma derrota histórica.

O partido, afastado do peso do poder, aposta em uma oposição ferrenha e em um fracasso do governo Temer.

O PT não hesitará em aproveitar o descontentamento provocado pelas medidas do governo de Michel Temer, tentando mobilizar parte da sociedade.

Mas qual o possível candidato para 2018? Sem uma renovação, o PT apresenta apenas um único nome, sempre o mesmo: Lula. As acusações contra o ex-presidente representam, no entanto, uma pesada ameaça sobre seu possível retorno.

Apesar das investigações judiciais, Lula aparece à frente nas pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno da eleição presidencial.

E, apesar de todos os problemas enfrentados pelo PT, ele continua sendo o grande medo eleitoral da direita, o homem a ser batido por todos os meios, inclusive judiciais.

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